Sunday, September 7, 2008

manhã de praia


Olhando o mar, sonho sem ter de quê
Olhando o mar, sonho sem ter de quê.
Nada no mar, salvo o ser mar, se vê.
Mas de se nada ver quanto a alma sonha!
De que me servem a verdade e a fé?
Ver claro! Quantos, que fatais erramos,
Em ruas ou em estradas ou sob ramos,
Temos esta certeza e sempre e em tudo
Sonhamos e sonhamos e sonhamos.
As árvores longínquas da floresta
Parecem, por longínquas, 'star em festa.
Quanto acontece porque se não vê!
Mas do que há pouco ou não há o mesmo resta.
Se tive amores? Já não sei se os tive.
Quem ontem fui já hoje em mim não vive.
Bebe, que tudo é líquido e embriaga,
E a vida morre enquanto o ser revive.
Colhes rosas? Que colhes, se hão-de ser
Motivos coloridos de morrer?
Mas colhe rosas. Porque não colhê-las
Se te agrada e tudo é deixar de o haver?
Fernando Pessoa

3 comments:

Justine said...

Poema sereno e nostálgico, "enfeitado" por uma foto líquida, límpida, cintilante.
Muito belo:))

Violeta said...

Adorei o poema e a foto. O mar é sempre belo, assim como a poesia.
Feliz dia!

a d´almeida nunes said...

Fernando Pessoa e o mar, indissociáveis!
E eu que só depois de conhecer (FINALMENTE) a Terceira, no ano passado, é que fiquei a saber que o primeiro poema escrito por Fernando pessoa, ainda criança, foi-o nesta Ilha. Uma bela e sentida imagem poética duma criança sobre a sua irmã, também criança...
O Mar da Terceira!...
A perspectiva única do mar visto atrás dum primeiro plano de rocha vulcânica, que parecia DEUS!