Wednesday, September 24, 2008

Conversas em familia



Há muito que não telefonava à irmã , nem sequer para saber do marido dela que andava adoentado há meses. Nem sequer o foi lá visitar a casa.

Estava cansada das confusões que a irmã sempre armava, dos ciúmes, das invejas e das dissimulações, da mania de se armar em vítima... Depois , havia ainda a questão do jazigo de familia para resolver : a irmã queria guardar lugar cativo e assegurar que o marido também iria para lá , quando todos os outros herdeiros discordavam, enfim questões do quotidiano familiar.

Alguém lhe dissera : - "Reze, reze por eles e não deixe de lhes falar"... mas ela não tinha a mínima vontade de o fazer. Ponto final.

Naquela tarde, quando entrou em casa viu o telefone a piscar e consultou o número. Confundiu-o com o da irmã.

À noite, decidiu ligar-lhe. Estava enxofrada, enciumada, queixosa como de costume com os filhos, o marido, a vida , o trabalho, o condominio, os papéis - coisas que sempre o marido tratou e agora ela não sabe por onde lhes pegar. A conversa não se alongou, nem entrou no ritmo dos pormenores e das confidencias pois entre elas não há essa ligação, nunca houve; são pessoas totalmente díspares, com vivencias e modo de estar totalmente opostos.

Mas no final , sentiu-se aliviada. Tinha sido ela a dar o primeiro passo, tinha sido capaz de transpôr a barreira do silêncio.

Rezas ? Sim rezava por todos eles, mas muito à sua maneira, com projecções de LUZ e de AMOR e pedindo a todos os deuses do Universo que os acompanhem no seu caminho !

9 comments:

Justine said...

Faamília! Pode ser uma âncora, uma raíz. Mas também pode ser um constrangimento, um peso, uma tristeza. O teu "retrato" é disso prova.

greentea said...

é um constrangimento, um peso , sim, não há dúvida...

não basta ter o mesmo sangue, origens comuns, ser filho dos mesmos pais ou ter os mesmos avós...

Hands of Time said...

Realmente nem sempre a familia é fácil :S

greentea said...

familias ...

às vezes nem vê-las ...

mas por vezes , dá-me gozo entrar nas casas dos meus primos e ver que por lá há coisas q pertenceram aos avós e povoaram a minha infancia - aí constato que temos laços comuns (embora muito ténuos por vezes !)

greentea said...

não é ténuos mas ténues...

Pitanga Doce said...

Ai que fico perdida quando estou a ser perturbada por pessoas que não sabem o que querem e chega alguém perto de mim e diz: "reza por eles". A minha vontade está muito longe de rezar. Apetece-me chegar perto e sacudir estes seres que andam por aí a empatar a vida deles e a dos outros.

Violeta said...

Como nada acontece por acaso, ainda bem que ligaste, de alguma forma quebraste essa enorme barreira que é o orgulho.
Naõ mudou nada? tudo continua igual? pode ser, mas para ti não e agora sabes que tens que "rezar" por ela...
missão (im)possível? pois,a credito mas é a unica forma que nos ocorre quando a vida nos finta ...
um bj e sê feliz
Protecção e serenidade para ti e todos os teus, dessa descumunal obra que é a família.

greentea said...

pitanga

dizes bem : a empatar a vida dos outros....
daí o corte nas visitas e no telefone !
ora pro nobis...

greentea said...

missão impossivel , sim...que aquilo já não tem mudanças ... o marido estar doente é um frete para ela , que agora só se quer ver livre dele , para vender a casa e deitar as papeladas dele fora e sair dali...
mas não são assuntos da minha conta e na minha casa e na minha familia vamos mantendo um nivel razoavel de harmonia e intimidade (fora do comum , para muito boa gente !)...