Monday, May 31, 2010

Ao som da Concertina

O Domingo estava quente, como se fosse um dia de verão. A aldeia encheu-se de gente - 80 pessoas vieram fazer uma caminhada desde a Guarda, pelo antigo percurso usado quando não
havia estradas nem carros, apenas um ou outro burro, algum carro de bois quando era preciso transportar algo mais.
À tarde , juntaram-se no Largo do Areal a ouvir as Concertinas Estrela da Serra. E vieram todos , novos e velhos. Fizeram rodas, fizeram o comboio, dançaram aos pares. Reparei na Prima Alcina com os seus 85 anos, batendo o compasso com o pé e fazendo uma roda com a Ti Maria que vai nos 79 bem contados mais outras duas ou três da mesma idade. Animadas , bem dispostas. Apesar dos anos, da viuvez, da solidão, do reumático e outros males, dos filhos que não tiveram ou que estão ausentes em França ou em Lisboa. Porque foi sempre assim a vida delas , quando eram novas os pais não as deixavam ir ao baile ou onde quer que fosse, que até parecia mal, fizeram a escola à pressa que o tempo era curto para as lidas da casa e o trabalho no campo, desde tenra idade.


Agora , os tempos são outros... fazem o que lhes apetece e sobra-lhes o tempo. Querem recuperar e aprender sempre mais. Estavam nas sessões de formação quando foram instalados os Ecopontos lá na aldeia, para aprenderem a separar os lixos. Agora, já há dez inscrições para os computadores: querem saber, querem poder falar com os filhos e os netos que andam por essa Europa fora... Sim, que a aldeia coordena um Projecto de CLDs, inserido no Guarda + Social.





Falamos de Avelãs de Ambom. Uma aldeia distante dez kms da Guarda, população muito envelhecida, sobretudo mulheres na faixa etária dos oitenta. Hoje são raras as que ainda vão ao campo semear qualquer coisita ou apanhar umas castanhas. Existe uma Associação para a Promoção Social, Cultural e Ambiental que está a construir um Centro de Dia mas actualmente já leva as refeições a casa dos associados, cuida dos doentes, leva-os às consultas médicas, faz tratamento de roupas e limpezas e tudo o mais que seja necessário. Porque a interioridade tem outras exigências que os citadinos desconhecem. E apesar do envelhecimento e da desertificação há um grupo de pessoas mais novas que não quer perder as suas raízes, o seu património cultural e identidade. E dão-se as mãos para preservar esta e outras aldeias, para manter o solo cultivado e reflorestado, para não permitir que a morte, o fogo e o exodo dos anos sessenta acabem por fechar a última porta ou deixem ruir mais outra casa.

Thursday, May 27, 2010

DESPEDIDA ETERNA

Despedida eterna

Zé Luis:
começámos esta tua última viagem (tu gostavas de viagens) na cama 56 dos serviços de cirurgia 1 do Hospital de Santa Maria. Lia-te poesia e um dia parámos neste poema da Sophia de Mello Breyner:

"Apesar das ruínas e da morte
Onde sempre acabou cada ilusão
A Força dos teus sonhos é tão forte
Que tudo renasce a exaltação

E nunca as minhas mãos ficam vazias".


Assim foi.

No teu visionário e intenso mundo, a voracidade de um cancro traiçoeiro não te consumiu a alegria, a coragem, a liberdade.

Entraste pela morte dentro de olhos abertos. O mundo que habitavas era rico de ideias, de sonhos, de projectos, de honradez e carinho.

Percebemos o que ia acontecer quando no fundo do teu olhar sorridente brilhava uma estrela de tristeza. Quando te deixava ao fim do dia na cama 56 e te trazia no coração enquanto descia a Alameda da Cidade Universitária a respirar o teu ar da Universidade, das aulas e dos alunos que adoravas, do futuro em que acreditavas sempre.

Foste intolerável com a corrupção, com os cobardes e oportunistas. Não suportavas facilidades. Resististe à sordidez, à subserviência, à canalhice disfarçada de respeitabilidade e morreste como sempre viveste - livre.

Uma palavra para aqueles que te acompanharam nesta última viagem: para os melhores médicos do mundo, para as melhores equipas de enfermagem e de apoio, num exemplo de inexcedível dedicação ao serviço médico público. Vivi com emoção diária o carinho com que te cuidaram. Uma palavra de gratidão sentida para o Professor Luis Costa e Paulo Costa. E para um velho amigo de sempre o Miguel.
Também para Laura e para o Jorge e para a minha mãe e toda a família que nunca te deixou.
Por fim uma palavra para aqueles amigos que inventaram uma barricada contra a morte no serviço de cirurgia 1, cama 56, e te ajudaram a escrever, a pensar, a continuar a trabalhar: o João Gama, o João Pereira e senhor Albuquerque, cada um à sua maneira.

Suspiraste nos meus braços pela última vez cerca da 1,15 da madrugada do dia 14 de Maio. Vai faltar-me a tua mão a agarrar na minha enquanto passeávamos e conversávamos. Provavelmente uma saudade ridícula, perante a força do exemplo e da obra que nos deixaste e me foi trazido por todos aqueles que te homenagearam - a quem deixo a tua eterna gratidão.

Tenham a coragem de continuar.

[16.05.2010 - Maria José Morgado]

Thursday, May 20, 2010

Livro do Desassossego

Todos nós, que sonhamos e pensamos, somos ajudantes e guarda-livros num Armazem de fazendas, ou de outra qualquer fazenda em uma Baixa qualquer. Escripturamos e perdemos; sommamos e passamos; fechamos o balanço e o saldo invisivel é sempre contra nós.
Escrevo sorrindo com as palavras, mas o meu coração está como se se pudesse partir, partir como as cousas que se quebram, em fragmentos, em cacos, em lixo,que o caixote leva num gesto de por cima dos hombros para o carro do eterno de todas as Camaras Municipais.
E tudo espera, aberto e decorado, o Rei que virá, e já chega, que a poeira do cortejo é uma nova névoa no oriente lento, e as lanças luzem já na distancia com uma madrugada sua.

Bernardo Soares - Livro do Desassossego

Tuesday, May 18, 2010

A última crónica de Saldanha Sanches


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Expresso, 15.05.2010
Pode ler as 36 Crónicas de Saldanha Sanches clicando em baixo

Tuesday, May 11, 2010

aldeias da minha vida

valia a pena fazer os 300Km que a separavam daquela visão
valia a pena sair de Lisboa ao fim do dia, deixando para trás o bulicio, o corre-corre, o stress


valia a pena percorrer a pé os caminhos de outrora, trilhados por romanos astutos, lusitanos ou celtas ou quem sabe por Astérix ou o seu druida, a caminho da grandiosa Roma

com chuva ou com neve, com um ténue sol primaveril valia sempre a pena .




Saturday, May 8, 2010

Wednesday, May 5, 2010

enfarte feliz


DOZE CONSELHOS
PARA TER UM ENFARTE FELIZ !!!
Dr. Ernesto Artur - Cardiologista
Quando publiquei estes conselhos 'amigos-da-onça' em meu site, recebi uma enxurrada de e-mails, até mesmo do exterior, dizendo que isto lhes serviu de alerta, pois muitos estavam adotando esse tipo de vida inconscientemente.

1. Cuide de seu trabalho antes de tudo. As necessidades pessoais e familiares são secundárias.

2 Trabalhe aos sábados o dia inteiro e, se puder também aos domingos.

3. Se não puder permanecer no escritório à noite, leve trabalho para casa e trabalhe até tarde.

4... Ao invés de dizer não, diga sempre sim a tudo que lhe solicitarem.

5. Procure fazer parte de todas as comissões, comitês, diretorias, conselhos e aceite todos os convites para conferências, seminários, encontros, reuniões, simpósios etc.

6. Não se dê ao luxo de um café da manhã ou uma refeição tranqüila. Pelo contrário, não perca tempo e aproveite o horário das refeições para fechar negócios ou fazer reuniões importantes.

7. Não perca tempo fazendo ginástica, nadando, pescando, jogando bola ou tênis. Afinal, tempo é dinheiro.

8. Nunca tire férias, você não precisa disso. Lembre-se que você é de ferro. (e ferro , enferruja!!. .rs)

9. Centralize todo o trabalho em você, controle e examine tudo para ver se nada está errado.. Delegar é pura bobagem; é tudo com você mesmo.

10. Se sentir que está perdendo o ritmo, o fôlego e pintar aquela dor de estômago, tome logo estimulantes, energéticos e anti-ácidos. Eles vão te deixar tinindo.

11. Se tiver dificuldades em dormir não perca tempo: tome calmantes e sedativos de todos os tipos. Agem rápido e são baratos.

12. E por último, o mais importante: não se permita ter momentos de oração, meditação, audição de uma boa música e reflexão sobre sua vida.
Isto é para crédulos e tolos sensíveis.
Repita para si: Eu não perco tempo com bobagens
.

Sunday, May 2, 2010

Mães

Recordou as imagens daquelas duas mães, ambas com bebés de cerca de 9 meses e não pode deixar de ficar chocada com o contraste:



Ana era mulher radiosa, que transmitia segurança e amor ao seu menino, um bebé feliz, sociável, sorridente, que brincava alegremente com todos que se aproximavam. No entanto, Ana vivia sozinha com o seu filho, trabalhava e lutava para o criar já que o pai do menino a abandonara quando soube que estava grávida...



Maria e Manel casaram-se mas as coisas não correram da melhor forma e ele apareceu de mala feita em casa da mãe. As coisas permaneceram assim durante dois anos, ela sempre a suplicar que ele voltasse e a pretender demonstrar que estava diferente, até já fazia o jantar em casa, deixara de passar os dias na casa da mamã e até que uma vez convidou a sogra para almoçar...

Ele voltou. Ela engravidou.
O menino nasceu e tudo regrediu de novo - a falta de comunicação, a anti-sociabilidade, os ciúmes, a insegurança, o vazio, as palavras que-nunca-se-dizem, a ternura, o amor, o contacto com os outros. O bebé não fala, não comunica, não sorri, não brinca. Chora. Recusa o colo de alguém, a mãe cala-lhe o choro com os toques do telemóvel mas não fala com ele, não sorri, não o encoraja...








"Ninguém pode negar a importância da presença da mãe para o desenvolvimento e crescimento, em todos os aspectos, da criança.A mae precisa ter energia física e psíquica para acompanhar todas as etapas da vida do seu filho, protegendo-o, traduzindo o mundo e satisfazendo as necessidades da criança.A mãe é a pessoa que dá a oportunidade do bebé conhecer o mundo, oferecendo o equilíbrio que a criança precisa para organizar todas as novidades que chegam diariamente. Se a depressão materna acontece, principalmente se ocorrer na infância ou adolescência dos filhos, um grande impacto no comportamento e intelecto recai sobre essas crianças.

Desde o nascimento, o bebé precisa da ajuda da mãe para conseguir sentir-se seguro, confiante e poder se desenvolver motor e cognitivamente. Uma mãe depressiva nessa época torna-se ausente e empobrecida de estímulos para seu filho.
O bebé já demonstra irritação com essa atitude depressiva, sendo um bebé choroso, tendo mais diarreia que um bebé com uma mãe não depressiva, não tem um contato visual constante com sua mãe ou com estranhos. A interação desse bebé com o mundo é precária e ele identifica-se mais com o rosto de alguém triste do que com um alegre. Viu como um problema da mãe pode gerar imensa confusão na cabecinha do bebé?
Futuro depressivo - Uma criança que tem a mãe depressiva tem mais hipóteses de desenvolver alterações emocionais, uma depressão, por exemplo, assim como a mãe.

Essas mães têm problemas de impor limites: às vezes são permissivas demais e outras rígidas demais. Essa dificuldade faz com que as crianças, principalmente entre os 18 e 42 meses, tenham dificuldade de se relacionar com seus amiguinhos, criando relações inseguras e desorganizadas, com problemas claros de comportamento. Alguns estudos realizados demonstram maiores índices de dificuldades escolares, seja por déficit de atenção ou distúrbio de aprendizagem, maior comportamento de risco e maior número de acidentes com os filhos de mães depressivas.
Um grupo de pesquisadores publicou um artigo na revista Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry em janeiro de 2007 relatando o comportamento de adolescentes cujas mães apresentavam episódios depressivos. Verificou-se maior número de usuários de drogas ilícitas, iniciação precoce da atividade sexual e maiores taxas de abandono escolar.





Os filhos, desde pequeninos, espelham-se no comportamento materno." daqui