Como todos os grandes apaixonados, gosto da delícia da perda de mim, em que o gozo da entrega se sofre inteiramente. E, assim, muitas vezes, escrevo sem querer pensar, num devaneio externo, deixando que as palavras me façam festas, criança menina ao colo delas. São frases sem sentido, decorrendo mórbidas, numa fluidez de água sentida, esquecer-se de ribeiro em que as ondas se misturam e indefinem, tornando-se sempre outras, sucedendo a si mesmas. Assim as ideias, as imagens, trémulas de expressão, passam por mim em cortejos sonoros de sedas esbatidas, onde um luar de ideia bruxuleia, malhado e confuso.
Não choro por nada que a vida traga ou leve.
Há porém páginas de prosa que me têm feito chorar.
Fernando Pessoa
5 comments:
Lindo!
e eu quase chorei...
um bj
Que belo! Só me apetece saborear em silêncio...
Pessoa, Pessoa, e Pessoa... bela escolha!
Dicho sea con todos mis respetos, la melancolía no llega hasta bien entrado el otoño.Aún es verano y la tierra está caliente.
Mis cordiales saludos desde Punta Umbría ( Huelva).
Mas...Chorar é algum mal? Dizem que os homens não choram, não é verdade. As lágrimas são um óptimo lubrificante dos olhos e,quando me despeço de alguém que gosto as benditas lágrimas aparecem.
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