Wednesday, December 19, 2007

So this is Christmas


So this is Christmas
And what have you done?
Another year over
And a new one just begun
Jonh Lennon
(Então é Natal
E o que você fez?
Mais um ano que termina
E um novo que está apenas começando).

Já é Natal, de novo. E para nós, a festa tão aparentada no tempo com o final do ano, sempre tem um quê de despedida... e de recomeço. Quando começo a sentir no ar o perfume das madressilvas e das damas da noite está na hora de iniciar a contagem regressiva até o Natal e falta um pulinho para o ano, mais uma vez, “acabar”. Durante muitos séculos, muitos mesmo, os homens imaginavam o tempo como sendo cíclico. Vivendo ao sabor dos começos e recomeços das estações, eles experimentavam a vida como ondas do mar, sempre acontecendo, sempre da mesma forma, e sempre absurdamente diferente. Esta idéia de um tempo cíclico, os povos antigos expressavam nas formas circulares das rosáceas das catedrais, da roda, dos 12 signos do Zodíaco, das mandalas. Não é nada por acaso que os relógios sejam, em geral, redondos. O centro destes círculos abriga o imutável, aquilo que de certa forma escapa à passagem do tempo, Deus, quem sabe... Em todos estes círculos que a imaginação humana criou está a mesmíssima certeza: não dá para saber onde tudo começa nem onde vai acabar e entre o início e o final das coisas não cabe nem um instante... A era cristã trouxe consigo a idéia de um tempo linear. E tão estranha era esta idéia que até hoje não nos acostumamos inteiramente com ela. O tempo, de círculo virou flecha, e nós ficamos ali, órfãos, com a nossa angústia. Nada disso... Contra tudo e contra todos, atravessamos os últimos séculos preservando a certeza de que o tempo não foge à regra da Natureza de nascimento, morte e renovação. E continuamos a construir nossos círculos, internamente ou nem tanto assim... Afinal, na prática, o menino Jesus nasce, de verdade e de coração todos os Natais. Isto de “vamos lembrar”, “vamos rememorar” está certo, é claro, mas a alma da gente desconfia. No fundo, sabemos que todos os anos, de alguma forma, temos a possibilidade de fazer nascer o pequeno Jesus em nós. Todos os anos têm alguma coisa que acaba no Natal e outra que começa. Não é só lembrança não, nem história. É coisa de vida mesmo! Existem autores que ressaltam a semelhança entre as etapas da vida de Cristo e a dos antigos deuses agrários, que morriam no inverno e ressuscitavam na primavera. O belo Adônis grego, por exemplo, passava metade do ano com Perséfone, no submundo, e renascia a cada primavera para encontrar Afrodite, a grande-mãe, deusa do amor e da vida. E a mitologia guarda vários outros deuses que morriam e ressuscitavam para simbolizar as forças vitais que emergiam das entranhas da terra: Dionísio, também grego; Tammuz, da Suméria; Osíris, do Egito. Belas histórias, que guardam alguns segredos, mesmo para nossos sentidos modernos... Penso que este clima de fim e de recomeço exige de nós uma espécie de pausa para um balanço da vida. Os judeus fazem isto no seu Yom Kippur ou Dia do Perdão, uma espécie de acerto de contas consigo mesmos, com os outros e com seu Deus. E quer melhor época para iniciarmos uma nova tradição e fazermos nossa contabilidade de alma do que o Natal? Começaríamos acertando nossas dívidas e resistindo aos apelos do consumo para fazer outras. Depois, passaríamos um bom tempo fazendo o exercício do perdão. Incluiríamos todos aqueles que de qualquer forma foram injustos conosco ou tenham, ainda que sem querer, nos prejudicado. Para alguns, a gente daria um pequeno telefonema, faria as pazes, reataria velhas amizades. Outros seriam perdoados apenas em nosso coração que isto já é mais do que o bastante. Em seguida, viria o momento de perdoar a nós mesmos, por nossas pequenas faltas e pelas grandes. Pelas nossas omissões e pela nossa humanidade. E finalmente, no Dia de Natal ou no dia de Ano Novo, você escolhe, faríamos nossa reconciliação simbólica com Deus. Fizemos o melhor possível, mas não o bastante. Fomos bons parceiros, mas nem tanto. Que se há de fazer? Ano que vem, com certeza e, é claro, se Ele quiser, faremos ainda melhor. Este acerto há de ter momentos duros, difíceis, não é coisinha assim banal. Os judeus chamam os dias que reservam a isto de Dias Tremendos. Acertos de contas são assim mesmo... Mas depois, de alma lavada, fresquinhos em folha, perfumados e vestidos de festa, poderíamos esperar o nascimento do Menino Jesus, que vem trazendo sua Luz. Mais uma vez... daqui

( Quem não gostar da palavra Deus pode substituir por Universo, Mãe-Terra ou qualquer outra que para si próprio faça sentido)


O resto da letra da música do Jonh Lennon

And so this is Christmas (E então é Natal)
I hope you have fun (Espero que vocês se divirtam)
The near and the dear one (Quem está perto e quem é querido)
The old and the young (Quem é velho e quem é novo)
A very Merry Christmas (Um Natal muito alegre)
And a happy New Year (E um Ano-Novo feliz)
Let’s hope it is a good one
(Esperamos que seja um bom ano)
Without any fear (E sem medo)
And so this is Christmas (Então é Natal)
For weak and for strong (Para os fracos e os fortes)
For rich ones and poor ones (Para os ricos e os pobres)
The world is so wrong (O mundo é tão errado)
And so Happy Christmas (Então Feliz Natal)
For black and for whites (Para negros e brancos)
For yellows and red ones (Para amarelos e vermelhos)
Let’s stop all the fight (Vamos parar de brigar)
Publicado conjuntamente com soldedomingo













Tuesday, December 18, 2007

O Muro do Derrete




O Muro do Derrete ficou na tradição. Quantas palavras de amor ouviu, quantas promessas se fizeram ali e a quantos desenganos deu origem!


O rapaz de barrete verde
precisa a cara partida
por baixo da sobrancelha
Pisca o olho à rapariga.


O amor saloio, como o de Lisboa ou Paris, só tem nuvens cor de rosa. Naquele alheamento, ele e ela afastam-se para um recanto.


No muro do Derrete dois assentos vizinhos frente a frente, separados de outro par por alguns metros, satisfazem o desejo de isolamento, que os pombinhos anseiam e isto porque


Maria , minha Maria
Meu açafate de rosas
Não se pode namorar
Por causa das invejosas


Aceite a corte, a prudência impõe condições, que o cancioneiro saloio objectiva


Ao passar o ribeirinho
Josezinho dá-me a mão.
Que eu espero de ser tua.
Mas por ora ainda não.


O entendimento fez-se. Ela e ele amam-se, o tempo fará o resto.


(Etnografia Saloia-Subsidios para o seu Estudo - Joaquim Fontes)


Ainda hoje se encontra a Rua do Muro do Derrete, perto do local onde se realiza a Feira das Mercês e um pouco acima da Casa Museu Leal da Câmara.

Monday, December 17, 2007

Reflorestação em Sintra





A Parques de Sintra e Monte da Lua (PSML) vai replantar cerca de 50 hectares de área florestal nas zonas alvo de acções de remoção de espécies vegetais consideradas “invasoras” ao longo dos próximos cinco meses. “Até à Primavera, 50 hectares serão alvo de replantação”, garantiu ontem António Lamas, Presidente do concelho de Administração da PSML, à margem de uma acção de voluntariado em que representantes de várias empresas convidadas plantaram cerca de mil árvores na zona envolvente ao Convento dos Capuchos.
O responsável reconhece que, com a remoção das chamadas espécies “invasoras” como as acácias ou os pitósporos, que estão a ser alvo de acções de limpeza nas tapadas D. Fernanado II e Monserrate, depois de eliminadas dos Capuchos “os efeitos imediatos são de alguma nudez”. António Lamas garante, no entanto que “se isto continuasse como estava daqui a uns anos não havia senão uma serra de acácias”.
A estilha resultante das limpezas permanece ainda nos terrenos em alguns locais, por dificuldades de aproveitamento do material. Os desperdícios irão, no futuro, alimentar a central de biomassa prevista para o concelho, em conjunto com outros materiais vegetais removidos. “Quando a central estiver construída as acácias serão encaminhadas para lá. Mas para já, as espécies invasoras não podem esperar”, afiram o responsável que assegura não existir qualquer relação obrigatória entre o volume de estilha resultante das limpezas e o funcionamento da central. “Esta é uma zona de conservação florestal e não de produção”, adianta.
Ao ritmo a que prosseguem as limpezas, António Lamas prevê o fim dos trabalhos de remoção total das invasoras “daqui a 5 anos”. Em 2007, os trabalhos aproximam-se do fim e a época é de replantação.
Sobre a acção de voluntariado, o Presidente do Conselho de Administração da PSML declara que “uma pessoa que participe nunca vai esquecer a experiência e uma pessoa que participe nisto nunca mais vai esquecer a serra e o que é preciso fazer para a sua renaturalização”. Carvalhos, sobreiros, azevinhos, freixos, azereiros, bordos, castanheiros, aveleiras e medronheiros integraram o lote de espécie a plantar. Em relação à conservação dos espaços, António Lamas considera que falta “dar-lhes um uso, com uma zona de lazer, onde se praticar desportos, passear com a família”. A totalidade da obra depende no entanto da componente financeira “ Temos de nos candidatar a um fundo que nos apoie”, remata.
Alvor-de-Sintra

Thursday, December 13, 2007

A Casa do Preto

Saindo de Sintra em direcção a Chão de Meninos, fiquei de repente com uns apetites dum café e mais qualquer coisita para aconchegar o estomago, que eram quase horas de almoço.

Entrei aqui.
Não me sentei , que tinha pressa. Mas de repente olho para o lado e vejo uma cara que me pareceu conhecida. Ela olhou-me também. Tornou a olhar para se certificar , tal como eu.
Não tive dúvidas - era a Olga , a professora primária (agora diz-se 1º ciclo) da miúda.
Durante quatro anos tivémos um contacto estreito e mantivémos uma relação interessante tendo em conta que eu era apenas mais uma mãe duma aluna dela.
Claro que perguntou logo pela sua educanda, onde estava , o que fazia, não se espantando com os resultados. Quiz saber se ainda continuava magrinha e elegante, se olhava o mundo de forma azul da cor dos seus olhos, com brilho, com vida, com aquela vivacidade que lhe conheço desde o momento em que nasceu.
Gostei de encontrar a Olga, porque fica sempre uma grande ligação com as pessoas que acompanharam os nossos filhos em pequenos, os prepararam, os formaram...
Roubei as duas últimas fotos ao Pedro Macieira e quem não conhece a história da Casa do Preto, em Sintra, queira clicar aqui

Saturday, December 8, 2007

São

Passaram-se tantos anos e não consigo esquecer. Eras determinada, corajosa, forte, uma mão amiga quando era preciso encontrar conforto nas horas dificeis. Não creio que tenhas sido feliz na verdadeira acepção da palavra - os teus amores foram sempre conturbados, as relações nem sempre fáceis ...
Trabalhavas com persistência e interesse , eras uma Mulher inteligente, por isso chegáste a um lugar de Direcção. Tinhas quarenta anos feitos há pouco e telefonáste a dizer que tinham finalmente acabado as obras lá em casa e o famoso roupeiro de parede estava concluido. Têm de cá vir ver - disséste tu....

Fomos, de facto fomos. Mas tu já lá não estavas . Para nunca mais. Um acidente "inexplicável" tirou-te a vida num instante e ficáste na estrada inerte no chão.

Ao longo dos anos senti muitas vezes a tua presença. Eras a madrinha que a miúda nunca teve porque me recusei a substituir-te. Quem me ajudou naquela longa noite em que eu tinha de concluir um trabalho complicado e fiz uma directa e no dia seguinte, pela manhã, estava tudo prontinho , sem uma falha... ?Tanta vez que trabalhámos juntas, que nos colocávamos questões e as analisávamos, tanta vez tanta coisa!

Hoje farias anos, não sei quantos nem interessa. Orquideas para ti.

Tuesday, December 4, 2007

asas de ouro


Creio nos anjos que andam pelo mundo,
creio na deusa com olhos de diamantes,
creio em amores lunares com piano ao fundo,
creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes;
*
creio num engenho que falta mais fecundo
de harmonizar as partes dissonantes,
creio que tudo é eterno num segundo,
creio num céu futuro que houve dantes,
*
creio nos deuses de um astral mais puro,
na flor humilde que se encosta ao muro,
creio na carne que enfeitiça o além,
*
creio no incrível, nas coisas assombrosas,
na ocupação do mundo pelas rosas,
creio que o amor tem asas de ouro. Amén.
(Natália Correia)
Escutado no programa "Câmara Clara" que tento nunca perder ao Domingo à noite na 2.

Monday, December 3, 2007

flower power

as pessoas que ocupam espaços interiores com plantas e flores têm menos stress, o que se reflecte numa redução da tensão arterial e da frequencia cardiaca.

as flores favorecem os sentimentos positivos, potenciam a sensação de satisfação com a vida e melhoram o comportamento social das pessoas
O impacto das flores tem a ver com a sua beleza. Mas se algo é belo , é porque nos transmite alguma mensagem. Diz-se que entre os animais, os humanos incluidos, a beleza fisíca informa da perfeição genética do individuo. Deste ponto de vista , a flor é o orgão sexual da planta e representa o seu esforço para chamar a atenção dos insectos e oferecer-lhes um alimento saboroso.


Mas também poderiam ser consideradas como pontos de especial concentração de energia mais subtil ... o ar mais alto, puro e brilhante que respiram os deuses, alma do mundo e fonte de toda a vida, segundo os gregos antigos, como sugere o perfume e o colorido que delas emana .

Excertos de um artigo publicado na revista CuerpoMente, de Claudina Navarro e Manuel Nunez

Friday, November 30, 2007


" A razão da tua vida é você mesmo. A tua paz interior é a tua meta de vida."
(Aristóteles) --



"O PRIMEIRO SINAL DE VIDA ESPIRITUAL É O DESAPEGO!"
(Sai Baba)



"UM DIA....CRIME CONTRA UM ANIMAL SERÁ CONSIDERADO CRIME CONTRA A HUMANIDADE!"
(Leonardo da Vinci)



"O MUNDO É UM LUGAR PERIGOSO DE SE VIVER, NÃO POR CAUSA DAQUELES QUE FAZEM O MAL, MAS SIM POR CAUSA DAQUELES QUE OBSERVAM E DEIXAM O MAL ACONTECER!"
(Albert Einstein)

Monday, November 26, 2007

Noites longas, dias obscuros...


Há dias atrás procurei por tudo o que era sítio a bendita chave da arrecadação , para ir buscar qualquer coisa que precisava. Normalmente, deveria estar no chaveiro atrás da porta principal pois não a trago junta com as outras chaves, mas há imenso tempo que não me servia dela ... Corri os armãrios, vasculhei nas carteiras (ah! as carteiras das mulheres !), procurei nos bolsos dos casacos, na mesinha , na cozinha, na cómoda , na secretária ... Tive de esperar pelo Green e ouvir os respectivos sermões sobre organização e métodos , que tanto me aprazem.


Bem , esqueci o incidente e o assunto ficou arrumado. Na 6ª ao fim do dia , o Green saiu pois tinha uma Assembleia lá na aldeia, em que ele é o Tesoureiro. Não me apeteceu ir e encantei-me com a noitada , fazendo o que muito bem me apetecia, jantando a dezoras, acendendo as velinhas que tanto gosto e os respectivos incensos e lendo , sem pensar nas horas. Sábado levantei-me não muito tarde pois tinha compomissos e era preciso ir buscar a Miss e mais uma data de coisas.

À noite, já bem escuro fui ainda dar uma volta com o cão, como é habitual antes de nos deitarmos. Conheço muito bem o trajecto, ele também, ambos farejamos tudo , o caminho é bem iluminado, embora no final da estrada tudo esteja revolvido por umas obras de canalizações novas. Não havia vivalma, nem cão nem gato por perto nem sequer os coelhos que às vezes atravessam a estrada. Pois não sei como nem porque não , "estampei-me" ao comprido , joelhos e mãos no chão que não sei como consegui levantar-me e chegar a casa. Tal foi o tombo que na manhã seguinte fui ao Centro fazer um penso em condições e tive de levar a vacina do tétano...

Apesar disso , fui ainda dar a voltinha com o cão, quando cheguei . Por causa das obras, há umas redes a barrar o caminho , em certas zonas . Passo ali todos os dias, várias vezes ao dia, bem à luz do Sol , o Green também. Pois ontem, quando olho de relance para a rede não tive a mínima dúvida : a minha chave da arrecadação lá estava , toda enferrujada, com o respectivo porta-chaves de madeira bem ressequido de estar exposto ali há meses, claro!


Entretanto, descobri casualmente que afinal o cão abandonado que supostamente eu alimentava todas as cnoites, sem nunca o ter visto aliás, mas "sentia" o seu rasto sobre as folhas caídas no chão e a comida desaparecia. Há dias ouvi uns guinchos estranhos e fui buscar a lanterna - afinal o meu cão eram apenas uma familia de ratazanas que se deliciavam com o cestinho de comida que eu todos as noites deixava por ali...


Para finalizar , hoje andava a limpar uns vasos das folhas secas e das ervas e atirei algumas pela borda fora , pois do outro lado apenas há mato. No ar , elevou-se um pássaro que desconheço, rodopiou várias vezes em torno do jardim e depois foi-se distanciando vagarosamente até se esconder para além de um pinheiro que existe no fundo da rua...


Que mais me irá acontecer ? !

Friday, November 16, 2007

amor em outros tons



No Norte e também no Sul, enormes desigualdades alimentam o medo diante do futuro. Alguns, com coragem, consagram as suas energias a modificar estruturas de injustiça.
Interroguemo-nos, todos nós, sobre o nosso modo de vida. Simplifiquemos a nossa existência. E encontraremos disponibilidade e abertura do coração para com os outros.
Hoje existem múltiplas iniciativas de partilha, acessíveis a cada um de nós. Um comércio inventivo e mais justo ou o micro crédito demonstraram que crescimento económico e solidariedade com os mais pobres podiam estar lado a lado. Há pessoas que estão atentas a que uma parte do seu dinheiro contribua para promover mais justiça.
Para que as nossas sociedades adquiram um rosto mais humano, é indispensável que dêmos o nosso tempo. Cada um pode procurar escutar e ajudar nem que seja uma única pessoa: uma criança desamparada, um jovem sem trabalho nem esperança, alguém que é pobre, uma pessoa idosa.
Escolher amar, escolher a esperança.



Há uns 3 anos fui abordada por uma Comunidade que iria acolher em Lisboa jovens de todas as idades e de vários países. Pediam se poderiamos alojar alguém que trazia saco cama e aceitava dormir no chão num qualquer recanto.

Aceitámos o desafio e na noite de 29 de Dezembro , já perto da meia noite, com muito frio e chuva , bateram-nos à porta. Eram dois polacos. As apresentações (in)habituais porque um deles apenas e só falava polaco, o outro , ia mantendo uma conversa em inglês/italiano. Que estranho - e que agradável - ter estes dois estranhos em casa. !

Aceitaram uma bebida quente e deitaram-se no local designado. , pedindo para tomar um banho depois e vários dias de autocarro...

Saíam de manhã , com o pequeno almoço tomado e voltavam à noite, sorridentes e educados. Havia mais de dez mil pessoas nessas condições que se reuniam em Lisboa; a minha irmã também acolheu um casal oriundo da Estónia.

Na noite de fim de ano convidaram-nos para uma vigilia pela PAZ e aceitámos ir. Todo o ambiente era maravilhoso e falava-se em todas as linguas , recitando canticos e meditações , cada um com uma vela entre mãos. Ao soar da meia-noite , todos festejaram, abraçando-se, beijando-se, formulando bons votos na lingua em que cada um se expressava, o que deu a esse momento tons de uma humanidade diferente, de amor , de PAZ.

Ontem à noite, fui a uma dessas reuniões . O local estava iluminado por 50 velas (contei-as...), entoaram-se cânticos e preces, fez-se meditação, cada um interpretando aquelas palavras da forma como melhor as sentia.

Saí de lá renovada, serena , tranquila, cheia de Amor...

Monday, November 12, 2007

Bonsai



Cansada do dia a dia , a recuperar de dias de gripe e amigdalite, sem paciència para nada e farta de ouvir o Green a dizer que as minhas plantas ocupam espaço a mais e gastam água em excessso e mais o planeta e mais a ecologia e mais a conta ao fim do mês , decidi dedicar-me a novas tecnologias (milenares) .
Se bem me lembro existia um Curso de Bonsai em Sintra , quando se desce a caminho da Vila - lá estava ele à minha espera , funcionando aos sábados ou Domingos às 10 h da manhã aqui mesmo , anunciando uma exposição de bonsai no próximo Domingo.

Já tenho uma Romãzeira com frutos bem vermelhos, uma oliveira que até dá sempre 3 ou 4 azeitonas, uma macieira , um mini-castanheiro de umas castanhas que deitei para um vaso, uma laranjeira e agora quero inovar com a buganvilia, o tamarindo , a gingko biloba.
Por vezes , vejo nos hipers plantas a morrerem de sede e de claustrofobia , talvez, ou de desgosto, de solidão.... Sinto o seu apelo e são essas que trago para casa para depois as recuperar. Também já as tenho trazidas de junto dos caixotes do lixo quando as pessoas mudam de casa e as deixam para trás como se fossem um traste velho ou como fazem aos animais. Passado um tempo estão linas e ficam eternamente gratas! E para mim é um prazer enorme conseguir salvá-las!

Friday, November 9, 2007

filhos de uma mãe menor....




Angelina já ia nos sessenta anos e dois filhos. Fora sempre superprotegida pelos pais e quando um dia disse à mãe que estava grávida resolveram que o melhor para todos era ficar na mesma casa. O casamento realizou-se estava quase a criança a nascer, sendo que o pai era o pároco da freguesia... Amores antigos, a necessidade de protecção de um "pai", de um homem mais velho que a protegesse e orientasse, ele próprio habituado às benevolências das paroquianas que ora lhe levavam o almoço, lavavam a roupa ou limpavam a casa. Acomodou-se assim em casa da sogra, já viúva, não precisando de fazer qualquer despesa com mobiliário e enxovais , gastos desnecessários , segundo ele, avaro por natureza e sabendo de antemão que a boa sogra continuaria a tratar da casa, das compras , dos comes e bebes e ainda dos netos que estavam para vir.

Quando a esposa começou a falar em procurar emprego e recomeçar a trabalhar, já o menino ia nos seus três anos e havendo dificuldades financeiras no casal, que a sogra continuava a sustentar, surgiu outra gravidez... Ela continuou em casa por mais dois anos, para tratar do bebé que à noite dormia sempre no quarto da avó.

Passaram-se muitos anos desde então, os rapazes cresceram e casaram; a avó morreu (em grande parte de desgosto recalcado) e ela teve de começar a ir às compras -uma canseira! - e a fazer as refeições , tratar das roupas etc e tal, a mulher a dias a pesar no orçamento mas ela coitadinha não sabia, não podia, não tinha tempo, nunca estivera habituada ( a mãe fazia-lhe tanta falta ).... e tinha o seu estatuto de assistente social numa Instituição bem conhecida.

Ontem , ouvi-a a lamentar-se mais uma vez por causa do trabalho, do director, dos filhos, da casa, das roupas e não sei mais do quê : os filhos já divorciados voltaram de novo ao lar-doce-lar.

Pernoitam em casa, não fazem lá as refeições, o mais novo é gestor informático mas lava e passa a sua própria roupa, o mais velho põe na lavandaria que está a fazer o doutoramento e dá aulas e ela queixa-se e conta um rol de lamentações sem fim!


Quantas mães quereriam ter uns filhos como estes ???

Não é certo que os deuses escrevem direito por linhas tortas? Não lhe pregaram a partida do retorno dos filhos a casa, tal como ela própria fez com a mãe , para saber como é, para dar o valor , para crescer e deixar-se de lamentações, vendo os lados positivos da vida e deixando de encarar tudo com negatividade e com egoísmo? Percebi que ela está à beira de um ataque de nervos, mas vistas bem as coisas nem sequer tem motivos para isso!


Tenham um bom dia, sem amarguras nem recalcamentos!

Thursday, November 8, 2007

Rodonite



Ajudas físicas : Alzheimer. Choques, Cicatrizes antigas, Perigo. Estado de choque. Fraqueza geral. Cura. Imunidade. Parkinson, Primeiros socorros. Saúde. Vertigens e falta de equilíbrio. Benéfica para o sistema nervoso, a glândula tiróide, os reflexos, a glândula pituitária e o pâncreas. Desenvolve a memória.. Acalma traumatismos físicos e emocionais. Reduz o stress. È ideal para quem faz trabalho burocrático e de escritório. Benéfica para problemas cardíacos

Acção sobre a mente . Amor-próprio. Angústias. Aprendizagem. Comunicação e diálogo. Compreensão. Confusão. Disputas. Desequilíbrio mental. Esperança. Exames. Iniciativa, Injustiças, Instabilidade emocional. Libertação. Partida para uma nova etapa. Perdão. Provocação. Rapidez de espírito. Reconciliação. Reticências . Sensibilidade. Isolamento. Situações extremas. Vingança. Vexames e opressões.
O elixir da rodonite é calmante e reduz os medos e ansiedades, desenvolvendo a coragem e o espírito de fraternidade.

Signos do Zodiaco : Carneiro, Caranguejo, Capricórnio. Gémeos, Touro.

Wednesday, October 31, 2007

malaquite





smorgado escreve "A malaquite, uma pedra que vai do verde claro a um verde profundo, simboliza os poderes mágicos de cura de todas as formas de plantas.A malaquite não irradia energia como a família dos quartzos, mas absorve-a. Por isso, é muito usada em casos de negatividade emocional, geralmente colocando-a no plexo solar (onde muitas emoções ficam retidas).
Tal como a rodocrosite, a malaquite ajuda a libertar emoções reprimidas e a restaurar a respiração profunda. Usada neste sentido, ajudará se visualizar a cada inalação, uma energia de um verde intenso a preenchê-lo de cura e equilíbrio.
(nota: se usar a malaquite para drenar energias negativas, é importante limpá-la após cada sessão de uso - veja o artigo sobre a limpeza de cristais)
A malaquite também é uma pedra valiosa no estimulo da criatividade. Ao usar a malaquite com o objectivo de expressão criativa, poderá colocá-la no chacra da garganta ou da terceira visão

mais ....


"If I discover within myself a desire which no experience of this world can satisfy,
the most probable explanation is that I was made for another world."
Clive Staples Lewis (1898-1963)
Anglican philosopher and novelist

Monday, October 29, 2007

O Ateneu nos anos sessenta

Os tempos eram duros e o nível de exigência grande para quem frequentava esta instituição..
Não se navegava na internet e as máquinas de escrever onde aprendiamos a dactilograar eram no mínimo pré-históricas...Os regulamentos também! Mas era uma escola mista embora os corredores e recreios fossem separados , bem como os ginásios. Só a piscina era comum (devidamente vigiada)...
Madalena que já ía nuns 17 anos namorava com um rapaz de outra Escola , ali para os lados do Chiado. Conhecido o caso, veio à baila que o professor de Fisica era o mesmo nas duas escolas , isto é, era professor da Madalena e também professor do namorado da Madalena. Palavra puxa palavra, viémos a saber que os testes que fazia eram exactamente os mesmos nas duas Escolas.
Passámos a negociar com a tal da Madalena - por sinal uma fraca aluna e já repetente - para conhecermos as datas dos testes do namorado para depois marcarmos/adiarmos os nossos e termos tempo de nos preparar devidamente, conhecendo com antecedência as perguntas . Tivémos a decência de nunca tirar vintes , estudámos afincadamente para responder às perguntas que iam sair , sabendo à partida que o belo do Matias nos iria chamar ao quadro negro para tirar teimas - provas essas que sempre superámos, sem levantar a mínima suspeita.
Era um árduo trabalho de equipa para que as mais fracas também conseguissem o dézito para passar, mas todas colaborávamos ! Felizmente , quando o namoro da Madalena acabou já tinhamos a disciplina feita e ele nunca soube de nada ...

ATENEU COMERCIAL DE LISBOA
Há uns anos atrás funcionava nos dois últimos andares a Escola do Ateneu Comercial de Lisboa, uma instituição desde há muito reconhecida como “de Utilidade Pública”.O Ateneu conta no seu palmarés com centenas de participações e dezenas de prémios e distinções, algumas de nível olímpico (nomeadamente na área de ginástica).
A Escola era na época afamada e de lá saíam alunos competentes e bem apetrechados.
A instituição conta com já mais de 120 anos, e hoje embora a Escola Comercial tivesse fechado funcionam aí muitas outras actividades:
“Centro das 1000 danças” (dança árabe, indiana e tango) Piscina olímpica coberta (hidromassagem, aulas de natação para adultos, crianças e bebés, horário de utilização livre) Ioga Karaté (estilo Shotokan) Ginástica (de manutenção e localizada) Fitness Cultura física Basquetebol Tiro com arco Jogo de pau Xadrez
Restaurante (cozinha portuguesa, africana e vegetariana) Bar da piscina (com esplanada)
O Ateneu Comercial de Lisboa aluga para eventos de natureza diversa, a preços acessíveis, o seu Salão Nobre e outras salas.
Contactos:
Rua das Portas de Santo Antão, 1101150-269 Lisboa
Telf: 213 421 365 / 213 433 367 Fax: 213 421 367

Friday, October 26, 2007

Anos sessenta




Em meados dos anos sessenta as meninas não podiam usar calças dentro das escolas , nas salas de aulas , nos escritórios. As saias também não deveriam subir acima do joelho embora as mais ousadas começassem a copiar modelos de Twiggy ou o estilo Mary Quant. A professora de Religião e Moral era a mesma que dava Economia Doméstica - uma "coisa" horrrrrrrrrrrorosa em que se aprendia a ser uma "boa dona de casa, a passajar e cerzir, a saber quando e como deveriam ser feitas as limpesas da Primavera, do Outono, da semana ou do dia-a-dia"...


Era simplesmente abismal!


Fartas dos conselhos morais da dita professora conhecida por Zézinha, reunimos o conselho de Turma e tomámos medidas severas face à situação. Note-se que as mentes criativas destes ousados projectos eram sempre as melhores alunas , aquelas que todos os trimestres ficavam engalanadas no tal do "Quadro de Honra" e para além disso eram apoiadissimas pela Chefe de Turma.


Vai daí, um dia combinámos ir para a aula de Moral com as saias mais curtas que tivéssemos e trocámos as benditas das meias de vidro da época por collants de cores bem agressivas - vermelhos, azuis, verdes , amarelos - com a respectiva batinha branca por cima , como mandava o Regulamento. Ao estilo da época , excedemo-nos no uso da bela laca e nos tufos dentro do cabelo. Fomos ainda ao eyeliner das mamãs e a todas as maquillagens próprias de então e toca de usar e abusar.

Como convinha, a turma era só feminina. A tal da Zézinha ficou estupefacta ao ver entrar as suas alunas naquela aula... e quando nos sentámos procurámos que as saias subissem o mais possivel, já que as batas abotoavam à frente , deixando bem de fora os joelhos coloridissimos!

Não nos pôde pôr faltas de castigo nem expulsar da aula (já que aquelas situações não estavam contempladas no Regulamento da Escola), mas aplicou-se a matraquear-nos a cabeça com todos os códigos de honra desses tempos anteriores a Maio de 68.


Dias depois , em pleno Inverno , preparámos outra ofensiva : Ir de calças para a Escola!

O continuo da porta ficou tão perplexo que não teve palavras para nós e assim assistimos à primeira aula. No intervalo fomos chamadas ao Director, sendo até autorizadas a passar pelo corredor dos rapazes que aprovavam a nossa luta (coitados deles que eram obrigados a usar fatinho e gravata todos os dias da sua vida).


O Director , casado com uma antiga aluna e bem mais velho que ela, começou com muitos rodeios patati-patatá... inquirindo finalmente das razões daquela ousadia.

Só a chefe de turma podia dialogar com ele, as outras tinham de se manter de pé e semicabisbaixas, mas a nossa resposta estava na ponta da lingua há muito tempo, desde que tinhamos perpretado aquele plano delirante:


"Temos frio, sr Director...a Escola é muito fria e as aulas começam às oito da manhã."


O Matias cofiou a barba, o queixo , o cabelo ralo, sem encontrar argumentos. Algumas de nós pensavam na suspensão, no processo disciplinar , na informação para os pais ou no comportamente mau ou medíocre com que a Zézinha nos iria distinguir.


Mas não. Nada disso. O Director olhou-nos a todas e com uma tolerância a que se viu forçado, informou que a partir daquela data poderiamos usar calças dentro da Escola, no Inverno !!!!!
Este texto surge no seguimento da 3ª edição do Merdock da autoria de Vieira Calado , que relata acontecimentos e lutas estudantis, usos e costumes dos anos cinquenta, em Faro.
A não perder! !!

Wednesday, October 24, 2007

criatividade




Bijuteria requintada , em prata
Pode escolher os modelos apresentados no site ou fazer as suas encomendas.
Criatividade e originalidade não faltam a esta designer !!

click para ver outros modelos

Tuesday, October 23, 2007

BURROS


Burros para cuidar de crianças especiais
Este fim-de-semana foi lançado o desafio para que seja constituída uma equipa de técnicos habilitados a usar burros na terapia de crianças com necessidades especiais. Pessoas com formação específica, que possam, de forma contínua, ir aos estabelecimentos onde seja necessária uma intervenção. Uma ideia abordada em Atenor, durante o 4º Encontro de Asinoterapia e Asinomediação, organizado pela Associação para o Estudo e Protecção do gado Asinino.
Durante o evento, vários participantes, atestaram que têm sido obtidos bons resultados no tratamento de pessoas com deficiência, utilizando os burros. Como se trata de animais dóceis, são geralmente muito bem aceites pelos pacientes, que respondem de uma forma positiva a estes contactos.

MAIS ....

Sunday, October 21, 2007

felicidade


O importante não é que os outros gostem de você, mas sim que você se sinta capaz de conviver harmonicamente com você mesmo. A felicidade não começa pelo lado de fora. Ela brota de dentro.


Fonte: SAMS, Jamie. Coleção Arco do Tempo

Wednesday, October 17, 2007

Amigos

f Mesa de jantar - Matisse
O Green ligou-lhe , já a tarde ia adiantada, dizendo que estava cá o João dos Açores e que tinha combinado irem jantar lá a casa. Ela não se atrapalha nessas alturas, surge-lhe sempre qualquer ideia simples e prática para a ementa, mas foi avisando que não chegaria muito cedo a casa . Pelo caminho foi pondo o esquema a funcionar, "inventou " um jantar simples que o João já foi operado ao coração e além disso é um homem complicado, pensou na bagunça em que estava a casa depois de um fim de semana prolongado , as malas ainda meio desfeitas, as roupas que ainda estavam na cesta por passar e em tudo o resto que nem valia a pena descrever....
Rápido, deu uma mãozinha em tudo e até pôs umas flores na mesa. Fêz o petisco enquanto eles acabavam de pôr a mesa e tratar das bebidas e só depois se sentaram a pôr em dia a conversa.
O João já vai ser avô! e eu lembro-me de quando a filha nasceu e que não houve tempo de ir para a maternidade e ele mesmo fez o parto.
Ali ficámos na cavaqueira até às tantas e depois lá veio ele desafiar-nos mais uma vez para irmos passar uns dias , em São Miguel. E fiquei a recordar os dias maravilhosos que lá tivémos , o cozido, as Furnas mas muito especialmente o Ilhéu de Vila Franca do Campo e aquela noite de luar inesquecível...

Tuesday, October 16, 2007

Poetas


Os Poetas vivem na Lua.
Por isso amam a Terra.
E escrevem poemas ao seu azul incomparável.
Uma homenagem a Adriano Correia de Oliveira
podem ouvi-lo aqui

Monday, October 15, 2007

beijar aTerra nossa Amada

Naquele Domingo entrou numa qualquer Igreja. O padre lá estava no altar a dizer o seu sermão.
Não era António Vieira que falava aos Peixes. Nem era Francisco de Assis, Protector dos Animais. Ela sentou-se , simplesmente , alheia de tudo o resto à sua volta. Mas ficou-lhe uma frase:
"Os Antigos deitavam-se no chão e beijavam a Terra,
em sinal de respeito e Amor pelo Planeta"....

Wednesday, October 10, 2007

Viver a vida

" Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Teria menos pressa e menos medo. Daria valor secundário às coisas secundárias; na verdade, bem poucas coisas levaria a sério. Seria muito mais alegre do que fui. Só na alegria existe vida. Manteria distâncias enormes das pessoas ciumentas e possessivas. Seria mais expontâneo. Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios. Seria mais ousado: A ousadia move o mundo. Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos sopa, teria menos problemas reais e nenhum imaginário. Eu fui uma dessas pessoas que vivem preocupadamente cada minuto da sua vida; claro que tive momentos de alegria. Mas, se pudesse voltar a viver, tentaria ter somente bons momentos. A vida é feita disso: só de momentos, nunca percas 'O agora'. Mesmo porque nada nos garante que estaremos vivos amanhã de manhã. Eu era um desses que não ia a parte alguma sem um termómetro, um saco de água quente, um guarda-chuva ou um paraquedas; se voltasse a viver viajaria mais. Não levaria comigo nada que fosse apenas um fardo. Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no início da Primavera e continuaria assim até o final do Outono. Jamais experimentaria os sentimentos de culpa e ódio. Teria amado mais a liberdade e teria mais amores do que eu tive. Viveria cada dia como se fosse um prémio. E como se fosse o último. Daria mais volta na minha rua; contemplaria mais amanheceres e brincaria muito mais do que brinquei. Teria descoberto mais cedo que só o prazer nos livra da loucura. Tentaria uma coisa nova todos os dias, se tivesse outra vez uma vida pela frente. Mas como sabem, tenho 88 anos e sei que estou morrendo.
" Viver a Vida, Jorge Luis Borges