Século XIX -Daí a pouco entravam na charneca que lhes pareceu infindável. De ambos os lados, a perder de vista, era um chão escuro e triste; e por cima um azul sem fim, que naquela solidão parecia triste também..O trote compassado dos cavalos batia monotonamente a estrada. Não havia um rumor: por vezes um pássaro cortava o ar, num voo brusco, fugindo do ermo agreste.
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Chegavam às primeiras casas de Sintra, havia já verduras na estrada e batia-lhes no rosto o primeiro sopro forte e fresco da serra.
E a passo, o break foi penetrando sob as árvores do Ramalhão. Com a paz das grandes sombras, envolvia-os pouco a pouco uma lenta e embaladora sussurração de ramagens e como o difuso e vago múrmurio de águas correntes. Os muros estavam cobertos de heras e de musgos: através da folhagem, faiscavam longas flechas de sol. Um ar subtil e aveludado circulava, rescendendo às verduras novas; aqui e além, nos ramos mais sombrios, pássaros chilreavam de leve e naquele bocado de estrada sentiam-se já, sem se ver, a religiosidade solene dos espessos arvoredos, a frescura distante das nascentes vivas , a tristeza que cai das penedias e o repouso fidalgo das quintas de Verão…
Eça de Queirós – Os Maias
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Chegavam às primeiras casas de Sintra, havia já verduras na estrada e batia-lhes no rosto o primeiro sopro forte e fresco da serra.
E a passo, o break foi penetrando sob as árvores do Ramalhão. Com a paz das grandes sombras, envolvia-os pouco a pouco uma lenta e embaladora sussurração de ramagens e como o difuso e vago múrmurio de águas correntes. Os muros estavam cobertos de heras e de musgos: através da folhagem, faiscavam longas flechas de sol. Um ar subtil e aveludado circulava, rescendendo às verduras novas; aqui e além, nos ramos mais sombrios, pássaros chilreavam de leve e naquele bocado de estrada sentiam-se já, sem se ver, a religiosidade solene dos espessos arvoredos, a frescura distante das nascentes vivas , a tristeza que cai das penedias e o repouso fidalgo das quintas de Verão…
Eça de Queirós – Os Maias
Século XXI - A paz das grandes sombras já não existe nem a embaladora sussurração das ramagens, os pássaros deixaram de cantar e esvoaçam em circulos de espanto e dor , depois de terem perdido o seu lar e os seus haveres, os ninhos onde estavam seus meninos...
De manhã à noite só se ouvem as escavadoras, as moto-serras e os gritos dos homens. As filas de transito cada vez são mais; os acidentes dispararam em flecha. A fidalguia já não vem passar o verão para Sintra, as quintas estão abandonadas, o comércio decadente. Outrora os salaios levantavam-se cedo para ir levar o pão a Lisboa e algumas verduras. Hoje , levantamo-nos cada vez mais cedo mas dificilmente chegamos a horas ao emprego e regressamos sempre mais tarde.
Levaram-nos a paz e a tranquilidade. Agora, as árvores, também !
20 comments:
É imperdoável ter andado tanto tempo afastado deste sítio.
Aterrei mesmo na hora, em termos de coincidências...
Esta comparação é muito emocionante e obriga-nos a pensar seriamente naquilo que pretendemos fazer da vida do Homem neste planeta.
O Desenvolvimento económico a qualquer preço (quantas vezes em favor privilegiado de meia dúzia de galifões/chico-espertos) não pode ser encarado como o objectivo supremo da organização da sociedade.
Imagino a desgraceira que será viajar em horas de ponta no actua IC19! Por acaso da vida não necessito de fazer esse percurso diariamente, como acontece com milhares e milhares de concidadãos, como tu, Greentea, por exemplo, já por aí andei, mas em viagem de passeio.
Por coincidência também coloquei um post sobre o IC2 - a propósito do acidente que provocou o corte total desta via até hoje ao meio-dia.
Beijinhos e temos que ter paciência. Que mais poderemos fazer? Será tudo isto uma inevitabilidade?
António
não há coincidencias, asn - é apenas e só o desenvolvimento económico a qualquer preço que faz destruir matas e arvoredo deixando a nú o casario, a privacidade e a tranquilidade de cada um de nós, agora desprotegidos do som e do perfume dos escapes, invadidos pelo cimento e asfalto às catadupas pelas pontes e mais pontes e viadutos sem fim , desalojando todos os seres que nessas zonas de mata viviam. Este ano já quase não vi borboletas, "joaninhas" nem se fala e abelhas vejo-as morrer aos poucos nos dias de chuva e cada vez menos as vejo poisar nas minhas flores ...
Um post muito inteligente e cheio de sensibilidade... Um mundo em S.O.S. que precisa cada vez mais de pessoas atentas como tu greentea.
Que tristeza! NÃO DESTRUAM SINTRA. POR FAVOR!
Um abraço
O IC19,(antiga estrada de Sintra )tem sido um factor de estrangulamento do concelho de Sintra nos últimos 40 anos, tem havido muitas promessas de criar vias alternativas, nunca realizadas,a Reboleira, primeiro, o Cacém depois, e mais recentemente as Mercês, grandes núcleos habitacionais(dormitórios) caóticos,aumentaram o números de pessoas que todas as manhãs, utilizam todos os meios para chegar a Lisboa (ou obrigados a passar por Lisboa) criando o espectáculo de todos conhecido das longas filas,e o pára arranca, que faz do IC19 a via mais congestionada da Europa.
Culpados há muitos, quase todos a viverem fora do Concelho de Sintra...
Hoje o alargamento tardio está a chegar a Sintra, a desertificação provocado pelas obras, e pelos muros de betão é preocupante, pois altera o equilibrio ecológico de uma grande zona.Criando um aumento de temperatura na própria via, derivado também ao enorme fluxo de trânsito que utiliza aquele percurso a qualquer hora do dia.
O problema das acessibilidades do concelho começa dentro das próprias localidades no acesso á via congestionada do IC19, é necessário que estes autarcas de Sintra que moram em Lisboa, resolvam rápidamente o problema das vias alternativas, e que sejam sensíveis á necessidade de criar zonas verdes, ao longo deste malfadado percurso.
A petição que está a circular a pedir reflorestação, da zona do IC19 é uma medida que pode chamar a atenção sobre o assunto.mas não basta é necessário "martelar" diáriamente, de forma que estes alertas façam algum efeito.
Um abraço
estas fotografias são excelentes.
isto era parte do antigo percurso para Lisboa ?
Em Sintra já não há Maria Monfort.
beijos
Hoje só interessa o que dá lucro.
Querem lá saber do bem estar das pessoas!
Adoro Sintra e, sempre que posso, e que infelizmente não é muitas vezes, gosto de passear por lá.
É um encanto.
Beijocas.
Um dia, quando descermos até à curva da "gruta do rio" e olharmos para à esquerda, lá em cima, já não existirá aquela mancha verde de pinheiros e eucaliptos. Haverá uma " nova fitares " ou coisa assim e cada vez respiraremos pior. As árvores, sacrificadas ao alargamento,vão fazer companhia a tantas outras que morrem injustamente.E quem é que pediu o alargamento? Para cada vez mais carros entrarem em Lisboa? Dentro de pouco tempo as faixas são insuficientes e haverá outro alargamento?
Sintra vai deixar de ser o que nós queríamos. Uma Vila Verde
natura.viva
este é um tema para não esquecer !!!
j.g
não só estão a destruir como ontem ainda tive oportunidade de assistir a outro espectáculo : (as imensas filas e o pára-arranca permitem ir observando tudo isto)
na zona de Rio de Mouro, onde há um viaduto pedonal e perto da Estalagem, estão os depósitos do gás natural. Pois não é que os troncos acabados de serrar e a folhagem dos arbustos foi CRITERIOSAMENTE encostada aos ditos depósitos ?
Brada aos céus q cortem as árvores desta maneira , mas que as encostem ao lado dos depósitos do gás até serem levadas pelos madeireiros ...
Toca o sino, a rebate !!
Pedro
as obras para Sintra chegam sempre com atrazo e no entanto Sintra é o 2º concelho em termos populacionais e creio que o 3º em termos de riqueza...
Mas os IC vem sempre atrazados, qd se concluem já estão saturados - foi assim qd há uns 20 anos se fez o IC 19, qd a seguir se alargou, qd se voltou a alargar até ao Cacém e qd agora se está a alargar entre Cacém e Ranholas...
Oiço falar no IC16 /IC30 também há mais de 20 anos , mas não se conclui, falta aqui, falta acolá e esse daria vazão a muito transito e seria alternativa...
Mas não esqueçamos que à chegada a Lisboa, nunca haverá capacidade de escoamento do tráfego que entra na capital diariamente. Há dias ouvia na rádio que as pessoas estão a utilizar cada vez menos os transportes publicos ... é facto porque sai mais caro e não funciona, na maior parte dos casos .
E enquanto tivermos autarcas exteriores ao concelho e q nem sequer cá moram, nunca vamos longe !!!
Já assinei a petição, claro!!
francis
claro q eram as fotos do antigamente
as de agora nem as quiz colocar...
Sintra já não é o que era ...Pitanga
melga
será que ´+e lucrativo desgastar as pessoas com duas horas mais duas ao fim do dia para regressar, com acidentes e stress constante , chegando todos ao trabalho já desgastados e à noite ainda pior?
beijinhos
viajante
as faixas qd são feitas juá estão estreitas e congestionadas porque o desfazamento temporal é abismal...
Há uns anos atrás, morava em Lisboa e comecei a vir para a zona para os fins de semana. Por vezes vinhamos à 6ª feira à noite e a antiga estrada depois de se passar Rio de Mouro e descer até Campo Raso, Terrugem etc era tão deserta e escura que metia medo...não se via vivalma , os carros eram raros e as luzes nenhumas. Se fosses pelo lado de Sintra entrando pelo Ramalhão , era outrra escuridão.
Agora está tudo inundado de casario e luminária e fala-se já de poluição luminosa que afecta os voos dos pássaros e de muitos outros seres que allteraram os seus ciclos de vida...
Ontem, estive numa reunião até tarde. Qd voltei para casa chovia e havia nevoeiro nalguns locais. Mesmo a essa hora o transito era uma gincana autentica, com faixas estreitadas, as protecções a apertarem o cerco e carros a alta velocdade...Um caos!
é um crime o que fazem hoje em dia com a natureza.. Para além de nos levarem o melhor da vida, a paz, com isso os animais também sofrem
O Paraiso tornou-se Inferno.
Por alguma rasão foste novamente nomeada.
Beijos.
Só recebi a minha hoje mas fica á mesma a intenção só para nós.
Beijos.
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