Monday, May 7, 2007

As três primas

Nunca brincaram juntas às bonecas nem aos jantarinhos porque qualquer delas tinha diferença de dez anos da outra. Em comum, tinham o facto de serem netas da mesma avó e por sinal eram as filhas mais novas de seus pais; todas se chamavam Maria qualquer coisa, ao gosto da época. Durante anos e anos sabiam da existência das outras mas pouco se davam – viam-se, por vezes, nas festas e funerais da família..
Maria I, que já vai na casa dos setenta, acaba de publicar um livro. Casara-se muito jovem, vivendo em África grande parte da sua vida, regressando a Lisboa quando seu marido se reformou. Era uma mulher muito interessante e culta, sempre muito ocupada, muito dinâmica. Não tinha filhos e dizia sempre que morria cedo, mas foi seu marido que partiu primeiro. Catorze anos mais tarde, encontrou aqui em Lisboa seu antigo director Belga, amigo do casal e agora viúvo também. No mês passado comemoraram dez anos de casados, com muita felicidade e carinho, dividindo as suas vidas entre os dois países, a família do primeiro marido também presente nessa cerimónia. A preparação do livro, a composição e selecção das fotos fez com que usasse mais o computador e conhecesse o mundo da Internet.

Maria II vive no Norte. A prima mais nova lembra-se de ter ido ao seu casamento, com uns 16 anos, tendo também passado algumas férias em casa da Tia Cristina, senhora de nariz arrebitado como a sobrinha. Esta Tia passou muitos anos sem ter filhos e quando já quase perdera as esperanças ficou grávida de dois gémeos, o que para a época não era muito vulgar. Maria II é fruto dessa situação. Durante anos foi professora e teve quatro filhos. Também ela ficou viúva e para não se deixar abater de mágoa e solidão , entrou para a Universidade da 3ª idade. Manuel acompanhou-a nesses momentos difíceis e ela retribui-lhe o gesto quando sua mulher veio a falecer, depois de muitos anos de doença.
Se pensaram em casar , em boa hora o fizeram, já que Manuel tinha sido o seu primeiro namorado e todos eles eram colegas de liceu. Maria II está hoje reformada , mas sai todos os dias , ocupa-se, visita os netos. A partida de um dos filhos para o Brasil, fê-la interessar-se pela net.

Maria III levava um percurso diferente, muito independente. Casou-se tardiamente e tal
como sua Tia também ela não engravidava, o que nunca a incomodou; nunca achara grande graça a bebés, embora tivesse muita paciência para crianças mais velhas. Um mês antes de completar seus 39 anos soube que esperava um filho, concebido na noite de S. João, noite de amor e de verão, coincidindo com as antigas festas de Beltane. Seu marido acompanhou-a nessa primeira consulta ao ginecologista e ouvidos os prós e os contras, decidiram pelo evoluir da situação. A menina nasceu em Março seguinte, lindíssima e perfeita, sem quaisquer problemas. Maria III também escrevia,como suas primas, suas Tias, exercia ainda a sua profissão e publicara um livro. Mantinha contactos com os blogs e através de mails com muita gente sua conhecida.

Recentemente , as três se encontraram. Todas elas tão diferentes, têm em comum o serem netas da mesma Avó, essa Mulher inteligente e culta, com um coração e umas mãos de fada, que souberam tecer admiráveis elos de amor e rendas e outros trabalhos maravilhosos. Hoje, estas três primas, todas elas tão independentes e determinadas, tão ousadas qualquer delas para a sua época, tão in-comuns como sua Avó o foi, contactam entre si trocando mails, receitas, conselhos, experiências e sentem o prazer dessa ligação única que é o facto de pertencerem à mesma família. Mesmo que passem anos e anos sem se verem, à distância de muitos kilómetros, circundadas por muitos senãos que o dia a dia traz!

Fotos : A Avó, em cima .

Maria III, em pequena com sua irmã mais velha.



5 comments:

Maria Cristina Amorim said...

Encontros e desencontros da vida.
Um beijo grande

Pitanga Doce said...

Parece que as emoções andam pelos blogs. Acabo de postar algo sobre uma avó que também era muito além do seu tempo. Coincidências? Não. Reconhecimento por quem fez e faz a diferença.

beijos

greentea said...

PANDORA


SEM DÚVIDA, MAS A LIGAÇÃO FICA SEMPRE, AS MEMÓRIAS DE FAMILIA NÃO SE PERDEM...

greentea said...

PITANGA

ESTA MINHA AVÓ ERA BEM ESPECIAL, UMA MULHER BEM DIFERENTE DO SEU TEMPO.

Era uma pessoa muito especial.

beijos a ti

rendadebilros said...

Deliciosas as tuas recordações e fotos. Derreto-me por fotos destas e por memórias... tão bem escritas. é Tão bonito recordar...
Obrigada pela visita.
Beijos.