Friday, April 2, 2010

Bolo de anos


Era dia de anos -do filho e do pai dela. Como de costume a Mãe fazia um almoço para o seu rapaz mais velho, agora já casado e com um bebé dos seus oito ou nove meses. Conversas ... as do costume nestas ocasiões mas para tias e primos, irmãos , não importa se não se vêm há várias semanas pois retoma-se o assunto exactamente onde ficara antes e parece que não passou nem um dia. Porque são assim os laços familiares; já todos nos conhecemos por dentro e por fora.


Sentaram-se para almoçar. Zézinho não saiu do colo de sua mãe, que não disse uma palavra. O marido serviu-lhe o prato, ela fingiu que comeu sempre com a criança ao colo.

"Ele só gosta de colo, até para dormir"...

Levantou-se da mesa, sem uma palavra, deixando a comida no prato. Sentou-se no sofá , lá atrás, sempre com o garoto ao colo. Cada vez que alguém se aproximava , ele começava a chorar, estranho. Não sabe sorrir, não brinca como as outras crianças da sua idade. Apenas se deslumbrou com garrafa de sumo de laranja, que tentava agarrar, emitindo pequenos guinchos de satisfação. Depois adormeceu no sofá, sempre ao colo da mãezinha.

Acenderam as velas para cantar os eternos Parabéns mas a devotada mãe, esposa do aniversariante não nos acompanhou , não sorriu , não bateu palmas , mesmo que ao de leve como todos fizémos para deixar o menino dormir. Não se dignou sequer reparar nas prendas dadas ao marido e ao filho... e muito menos agradecer.

Os primos começaram a ver albuns de outros tempos e a desfiar memórias. Ela acompanhava , distante. Primo e prima na mesma faculdade - um a fazer doutoramento, o outro no mestrado. Ela a ouvir, o olhar a lançar chispas! Tratou de chamar a atenção do marido, dizendo-lhe para ir dar o biberon ao Zézinho. De seguida, vestiram os casacos e foram embora, escada abaixo, sem um sorriso, sem uma palavra.


A Avó estava desolada, sem uma explicação plausivel para estas atitudes da nora e do filho , que anda a reboque daquilo tudo, sem abrir boca, sem um não, engolindo em seco a tudo o que a outra quer. A familia não vai a casa deles, nunca os pais ou os tios dele foram convidados para lá passarem um dia de anos, de Natal, de Páscoa, de Carnaval ou qualquer outro porque os dias são passados permanentemente em casa da mãezinha dela. A casa deles serve apenas para lá irem dormir, não há uma migalha, um quadro, uma planta, uma jarra, um brinquedo... as máquinas por estrear!


Serão estes os novos modelos familiares ? A criança não sorri porque a mãe não sorri para ele , não fala com ele . Pormenor interessante : quando ele começava a chorar ligava-lhe os toques todos do telemóvel e tivémos que aguentar com aquilo durante quase todo o almoço. Diga-se que não são romenos nem chineses. Ele é professor universitário, ela tem um curso superior. Moram num décimo andar em pleno centro de Lisboa, num prédio quase de luxo. Até quando ?

11 comments:

Justine said...

A tua história está muito bem contada, prendeu-me desde o início. E é muito triste e muito real-será que estamos à beira de uma sociedade desumanizada? Não poderemos fazer nada contra isso??

Je Vois La Vie en Vert said...

Triste vida ! Infelizes os que não sabem aproveitar os bocadinhos da vida e fazem da sua um martírio enquanto têm tudo para serem felizes...Não sabem fazer uso das coisas, não sabem reconhecer o que têm, não sabem agradecer, nãoo sabem ver qual é a verdadeira infelicidade, vivem num círculo fechado, não olham a sua volta, etc....afinal...não sabem viver !
Feliz Páscoa ! Joyeuses Pâques !
Beijinhos da Verdinha

Pitanga Doce said...

Ui! Essas histórias em que metem primos e primas a estudarem juntos até me lembram outras histórias tão parecidas mas com final diferente.

Olha, o casal "robotizado" está perdendo as melhores coisas da vida, entre elas uma boa gargalhada em familia.

Vai à árvore amanhã, tá bem?

Espaço do João said...

Mas que esquisito!!! A história está bem contada, só a minha mente não entende. Será que è este o futuro? Isto è amor? Amizade? Nova forma de vida? Nada me admira que qualquer dia esteja alguém para seu lado.

greentea said...

justine
são histórias q me chocam , sobretudo porque olho para o menino de oito meses e este não sabe sequer sorrir nem brincar nem fazer as gracinhas próprias da idade;
num outro local e numa outra familia nasceu um outro bebé , naturalmente a avó quiz conhecer o primeiro neto daquele filho. Passadas tres semanas da data do nascimento, foi-lhe dito que ainda não era altura, depois de a mãe da criança ter passado a gravidez fechada em casa supostamente por causa da gripe A (engordando 2 arrobas!)

???????????????

greentea said...

nem sequer sabem sorrir , Verdinha

greentea said...

Pitanga

nem sei se chegam a ser robots, são apenas e só qualquer coisa de deslavado, seco, sem graça e sem humor que se fecham atrás de biombos de infelicidade e ede angustia !

greentea said...

Pitanga

e depois nem sequer usam um bom perfume !!!!!!

greentea said...

joão

isto é para mentes obtusas e não para pessoas esclarecidas como tu !

Pitanga Doce said...

Ó carago! Não tem um bom perfume nessa história? Aí está mal de todo! Cacharel pra eles já!

greentea said...

pois Pitanga
o problema é mesmo esse
não há Perfume
nem flores
nem gato
nem cão
nem sorriso
de geito nenhum...