Sunday, April 15, 2007

nos passos de uma peregrina

Foi nessa noite de Natal, na missa da meia noite que ela se questionou : "Como hei-de ir a Roma?" e a resposta veio como uma labareda que a queimava e de repente a ideia surgiu-lhe vou a pé. Ideia que tomou vulto e foi aumentando até se tornar realidade.
Foi um sonho que se tornou realidade e eu vou viver essa vida, vida feita do encanto da partida, da tristeza do largar, da certeza do que deixo, da incerteza do que encontrarei, da alegria de lá chegar, da saudade do que fica, da canseira dos caminhos, do sossego do lar
Maria do Pópulo partiu de Fátima em 13 de Maio de 1950, sozinha , empurrando um carrinho de bebé onde levava a sua bagagem, mantimentos e um caderno onde escrevia a lápis as notas da viagem, que depois mandava pelo correio para sua mãe. Não havia fotocópias, nem mails, nem telemóveis, nem cartões de crédito, cada país com sua moeda. Depois de lidas , as folhas eram enviadas para o Lobito, em Angola, onde uma das filhas morava. Cuidadosamente, foi coligindo todas essas folhas , dactilografou-as e nos dois últimos anos passou-as a computador, adicionando notas de sua autoria, fotos de familia e dos locais onde sua mãe esteve e dos paises que atravessou - sempre a pé, empurrando o seu carrinho - Portugal, Espanha, França, Mónaco, Itália e Vaticano.
Cada dia de caminhada era dedicado a um familiar, começando por sua mãe, seguindo-se os três filhos e logo depois , seu irmão mais velho João, meu Pai.
O livro foi entregue ontem numa homenagem a todos os sobrinhos e às proprietárias do carrinho de bebé, que sobreviveu à viagem e foi o grande companheiro de minha tia , confidente de momentos difíceis, amparo em situações de aflição, fonte de enormes preocupações, estorvo, por vezes...
Ao longo destes cinco meses e meio de viagem, Maria do Pópulo narra o seu quotidiano com simplicidade mas dá também uma panoramica da sociedade dos anos cinquenta e das condições de vida duma Europa acabada de sair da 2a Guerra. Um documento importante cuja leitura nos prende mais a cada dia que passa, sem dúvida. Mas um privilégio enorme ser sobrinha desta Tia!

12 comments:

Meg said...

Mãe Coragem... e quanta coragem se atentarmos na data que referes...
Vale sempre a pena...
Um beijo

greentea said...

meg
Mãe Coragem com uma determinação inflexivel, fazendo 20 Kms por dia, dormindo pelas valetas e pelos campos, agradecendo o acolhimento que alguns lhe davam mas nunca o pedindo, esta Mulher que já ia nos 50 anos atravessou 6 ou 7 paises, a seguir à 2ª Guerra Mundia e à Guerra de Espanha, onde os siinais do racionamento eram ainda bem visiveis, no tempo em que não havia telemoveis nem cartoes de crédito e onde a sua passagem deixava ainda suspeitas.
Mas chegou a Roama cheia de energioa e vitalidade , com um sorriso nos lábios depois de ter percorrido 3500 kms, empurrando um carrinho de bebé. Tentarei contar algumas das suas peripécias, nos próximos tempos.

Um beijo

Santa said...

Que determinação!! Belo post!
Bjs

Reflexos e Sinais da Alma said...

Viva a preserverança,o sonho e a determinação !
Sinceramente, só te conheço por aqui, mas estou certo que mereces de corpo inteiro a referência e a Tia fantástica que tens !!!
Uma historia a guardar em qualquer Alma e em qualquer Coração.
Um Beijo

Isabel Santos said...

É preciso muita fé, determinação e espírito de sacrifício para realizar muita viagem desta dimensão, principalmente numa altura tão difícil, em que a Europa estava dilacerada.
As histórias de coragem surgem de onde menos se espera. Parabéns por ela ser tua Tia, fico à espera de mais relatos.
Um beijinho

greentea said...

santa

sem dúvida, independentmente dos motivos que a motivaram!!
Um abraço para ti

greentea said...

reflexos

penso que este é um caso único em Portugal, pelo menos . Na altura foi falado nos jornais e na Rádio , mas eu cresci ouvindo contar esta história de que só agora sei muitos dos pormenores

um beijo

greentea said...

isabel
vou postando alguns relatos,
Estou em negociações com a minha prima para me enviar os ficheiros para não ter que os passar de novo a computador, tal como algumas fotos que já estão digitalizadas. Mas não sei se ela não quererá criar um blog e fazer ela própria esse trabalho de divulgação.
E nesse caso, ela terá certamente a primazia na divulgação da história.

Um beijo para ti

Pitanga Doce said...

Será que foi dela que herdaste a determinação pela vida?

beijos

Moura ao Luar said...

:-) beijo cheio de felicidade

Tom said...

Vim para matar a saudade desse espaço que tanto gosto.
Que linda história!
Beijos,
Tom

Paúl dos Patudos said...

Tia fantástica!
beijos
Ana Paula