Tuesday, November 17, 2009

cartas de 1911




Outubro de 1911

Que esforços sobre-humanos eu fiz, Meu Deus, para que ao separarmo-nos não me deslizassem pela face as lágrimas, esse mar de dores cuja profundidade não é dado sondar ao pensamento.
Assomando-me aos olhos naquele instante, e não podendo banhar-me o semblante, evaporaram-se no ar, e, como disse Dante, o grande pintor de todas as dores humanas, granizaram sobre o meu pobre coração. A minha alma foi magra e forte e ergueu-se tenaz contra o peso que queria esmagá-la e a imensa dor, que então senti , disse-me quanto te quero, quanto te amo e … cri em mim próprio e no futuro.

Li e reli o teu Diário, ou antes o teu conto de amor, verdadeiro queixume de um coração namorado e enfermo, que possui o sentimento, essa fonte infinita de inspiração e de vida.

Os seus trechos têm secretos encantos , inexplicáveis harmonias; são suaves gorjeios, assentos cheios de tristeza, emoções de uma alma acesa em amor.

Se eu tivesse feito o meu, verias como as nossas lágrimas se confundiam, chorando quando tu choravas, pois fui teu comensal constante no tanque dos sofrimentos e tristezas.

Sofri também muito, juro-te, nesta tormentosa paixão, mas preferi sempre o padecimento ao gelo da indiferença que sempre me mostravas , e assim o amor enchia-me o espírito como a atmosfera e sorria-me como o sol na inteligência.

Mas hoje através dos seus raios minha alma vê o mundo e adivinha o céu e a vida vai decerto correr-me como fonte murmurante límpida, que faz brotar flores e retratar nos seus cristais o azul do céu.

Que enorme sacrifício, um dos maiores da minha vida, o inutilizar essas tuas páginas de lágrimas ardentes, de suspiros sufocados, de horas de tristeza, de infinita dúvida, de receios e sustos, de tudo quanto de triste e lastimoso dá de si o amor!

Mas tu assim o quiseste e eu sei sempre cumprir o que prometo. Não te inquietes, o meu pensamento não te deixará um instante. Escuta-me, obedece-me, cumpre o que me prometeste, trata de ti, sossega e descansa.
Um beijo do teu…

5 comments:

Justine said...

Já não se escrevem cartas assim! Aliás, já mal se escrevem cartas...e é uma pena.

Pitanga Doce said...
This comment has been removed by the author.
Pitanga Doce said...

Greentea, minha querida amiga, eu não sei o que dizer por diversas razões. Diversas e reais e um dia, quando o post for ao ar, vais entender o que digo.

beijos da Mila

greentea said...

justine
não se escrevem nem se dizam ...
estas foram escritas por alguém que verdadeiramente AMOU uma Mulher!

greentea said...

Mila
por vezes tb fico sem fala , mas como esta tenho um caderno cheio delas, escritas ao longo de vários anos - histórias de um AMOR que foi real.

Fico à espera do teu post