Vida de cão

Uma amiga telefonou-lhe desesperada. Mora num apartamento com terraço e ao lado há também outro terraço. Nesse apartamento , além de um casal, coabitam três cães, uma gata e suas quatro crias, uma gaiola com dois pássaros e outra gaiola com um esquilo.
A roupa permanece estendida por vários dias, para secar bem com o calor que tem feito; as mantas e as toalhas vão sendo penduradas aqui e além , onde houver espaço; em cima do grelhador fica a tijela da carne para chamar as moscas, já não falando do fio eléctrico que atravessa o espaço, para iluminar a mesa de refeições, quando eles decidem jantar outside, à luz da lua. Ela chama-lhe "amor para aqui, amor para acolá"... mas volta e meio berra que nem uma possessa , acusando-o de a ter traído ou dizendo-lhe para parar - não se sabe com quê!
Há dias , um dos caezitos arraçado de caniche mini, roeu talvez as franjas de um tapete que com o vento caiu ao chão. Ela ouviu o dono ralhar com ele e levá-lo para dentro, decerto para o fechar na casa de banho , como é costume.
Talvez para lhe bater lá dentro ou aplicar-lhe alguns pontapés, como também é costume. Que ela muito bem ouve as "manobras", o seu quarto colado com a casa de banho deles e a construção moderna a deixar as paredes trespassar os sons do que se passa nas casas dos vizinhos. Na manhã seguinte, ouviu ganir mas ficou na dúvida. O cãozito ainda não tinha vindo à rua desde a véspera e os estores do lado estavam todos fechados. Ouviu ganir novamente e percebeu que ele batia no cãozito. Abriu a porta do patamar com força para confirmar que não se enganava - o vizinho parou e o cão calou-se. Pouco depois, ouviu as vergastadas e o chorar aflitivo e não se conteve - tocou à campaínha até que o outro abrisse, ordenando-lhe que parasse com aquela selvajaria. O homem abriu a porta com a chibata na mão, comentando que "na minha casa não caga nenhum cão e agora vais outra vez preso para a banheira"... a casa tresandava ao cheiro de cão molhado, depreendendo-se que o cão era metido na banheira com água! De facto, a meio da tarde, o cãozito foi colocado no terraço, à sombra, preso por uma corrente de meio metro, longe da água e da comida, sem uma manta, em cima do cimento, tremendo por todos os lados, encharcado até aos ossos...
Ela telefonou para tudo o que era sítio : GNR da zona, protectora dos animais, Apoio à Vitima, Condominios, Vizinhos e não sei mais o quê - ninguém fez nada! No dia seguinte , aquela miniatura de cão continuava preso à mini-corrente, refugiando-se no seu canto mal pressentia o dono...
Alguém tem sugestões ( mais) do que é possivel fazer ? A vítima agradece!