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Wednesday, January 16, 2013

Zico e a insustentável leveza das decisões da (in)justiça




NO CASO DO PITBULL QUE FOI ENVOLVIDO NA MORTE DE UMA CRIANÇA, FEZ-SE O MAIS FÁCIL, COMO SEMPRE: CONDENARAM O ÚNICO SER VIVO QUE NÃO TEM VOZ PARA SE DEFENDER



A caminho da morte, lá vai o Pitbull que, no meio desta triste história, é o mais inocente dos seres, tão inocente como a criança que morreu… Isto só acontece num país sem leis e cheio de gente sem um pingo de lucidez.


Os donos de um Pitbull foram responsáveis pela morte de uma criança.

Um Pitbull não ataca ninguém se não tiver um motivo.

A criança morreu.

O Pitbull está em vias de ser abatido, sem culpa nenhuma.

E aos donos do Pitbull o que lhes acontecerá?

Naturalmente nada, e no entanto foram os responsáveis pela morte da criança.
Ninguém em seu juízo perfeito tem um Pitbull fechado num apartamento.

Como seria tratado este Pitbull?

Um Pitbull não é agressivo se não o incentivarem a ser.
Por que há-de, então, pagar pelos erros dos donos?

Porquê o animal tem de morrer, quando os donos é que são os verdadeiros culpados?

***
Transcrevo aqui um texto que subscrevo inteiramente, porque diz também do meu sentir e do meu pensar. Também eu estou triste, mas triplamente: pela morte da criança, pela condenação de um inocente Pitbull, e por viver num país ainda tão primitivo, onde uma veterinária (e não lhe chamarei médica) devia estar a picar chão num deserto.

***

DUPLAMENTE TRISTE

por Filomena Marta

«Começou ontem a saga da criança que alegadamente foi atacada por um cão, de raça considerada perigosa. Hoje, estou duplamente triste, pois dois seres vivos encontraram a morte. A criança morreu e o cão está no corredor da morte. Duplamente triste.

Muita gente, com certeza, vai espumar e ficar indignada com esta crónica. A raiva e a fúria toldam a razão. Primeiro, gostaria de não ter de escrevê-la, de todo. Depois, gostaria de a escrever noutras circunstâncias que não após a morte de uma criança. E isso acontece precisamente porque decidi não a escrever no calor do momento, quis esperar que o meu discernimento tranquilizasse e me permitisse tratar este delicado e triste assunto com justiça. Justiça para a criança e para o cão.

E para que a justiça impere é necessário saber o que realmente aconteceu. Nada se disse sobre isso. Em todos os noticiários os mais básicos critérios jornalísticos foram atropelados, não foram cumpridos. Aquilo que qualquer jornalista deve aprender na primeira lição de jornalismo falhou redondamente ao não serem respondidas as seis perguntas fundamentais: ficámos a saber “quem”, “quando” e “onde”, ficámos com sérias dúvidas em “o quê”, o “como” e “porquê” ficaram sem resposta, porque nem sequer foram questionados.

Após várias notícias em diversos meios de comunicação, continuei sem saber o que realmente tinha acontecido. Sabia apenas que “um cão” tinha “atacado uma criança de 18 meses em Beja”, que esse cão era da família e conviveu pacificamente durante nove anos, que a criança tinha um traumatismo crânio-encefálico, e que o cão fora levado para o canil onde será abatido após os oito dias legais. Como? Porquê? O que aconteceu?

De que forma o cão atacou a criança? Um traumatismo crânio-encefálico é geralmente fruto de uma queda/pancada. Se um cão como o referido, possante, atacasse alguém de forma viciosa e agressiva, principalmente uma criança, os ferimentos por laceração seriam graves. Só foi sempre mencionado o traumatismo.

É uma criança, é trágico e triste, mas isso não cessa o dever de questionar e informar acima de qualquer suspeita. Ninguém perguntou como foi o ataque? Em que circunstâncias e como ocorreu? Investiu agressivamente e mordeu? Correu para a criança, derrubando-a e fazendo com que batesse com a cabeça no chão, provocando o traumatismo? Como foi?

Foi esta a informação que tivemos.

Esta informação não me chegou, mas eu não sou a maior parte da população. Para a maioria, diria a esmagadora maioria, esta informação chegou e estava dito tudo o que era preciso ouvir: um cão atacou uma criança, que foi para o hospital em estado grave.

Procurei mais dados. No meio do jornalismo-papagaio encontrei finalmente uma notícia “quase” bem construída, pelo menos uma notícia que explicava relativamente os factos.

O cão afinal atacou a criança? Não.

“O animal pertence a um tio do menino, que vive na mesma casa com os pais e os avós da vítima. Em declarações aos jornalistas, o avô da criança, Jacinto Pinto, disse que o cão estava «às escuras» na cozinha da casa quando o menino foi àquela divisão e «caiu-lhe em cima» e o animal atacou-o. O que aconteceu «não tem explicação» porque o cão «era meigo», «sempre conviveu com crianças» e em nove anos de vida «nunca» antes tinha atacado ou feito mal a alguém (…)”, in www.publico.pt

“O miúdo caiu em cima dele e ele atacou”,são palavras de Linda Rosa, a veterinária municipal de Beja que adianta uma declaração incompreensível: “Como ou porquê ao final de nove anos de convivência com a família? Está na natureza de todos os cães, particularmente estes cruzados de raças potencialmente perigosas, como o pitbull”. Uma pérola de sabedoria nestas palavras.

Senhora veterinária, se a senhora fosse um cão, estivesse deitado num quarto às escuras e lhe caíssem em cima, mesmo que fosse um Yorkshire miniatura iria com certeza reagir!

Quando foi recolhido pela Câmara, e segundo o testemunho da veterinária municipal, o cão “estava bem tranquilo e não mostrou agressividade nenhuma”.

Não sou uma “dog person” e sinto muito respeito por cães possantes e de grande porte. Mas sei que o primeiro e principal problema comportamental da esmagadora maioria dos cães tem um nome: dono. E por coincidência, apesar de ter todas as provas de ser um animal dócil, Jacinto Pinto, o avô, confessou que estava “desejando” que o animal fosse abatido e que “há uma ano e tal” tinha ido à AMALGA (N.A. vulgo canil municipal) para o tentar abater, porque “não tinha condições para ter o cão em casa”. Palavras para quê…?

Na imagem, viu-se um cão com aspecto submisso e tranquilo, com a coleira de tal modo presa às grades que não conseguia mover a cabeça. Não se viu ponta de agressividade. E a mim, que tenho a péssima mania de pensar, tudo me parecia tão estranho, tão mal contado. E estava.

Compreendo a angústia dos pais da criança. A mesma angústia que sentiriam se o filho fosse empurrado por outra criança e caísse e batesse com a cabeça e ficasse gravemente ferido.

Que pena o cão não ter pais.

Que pena a criança ter morrido.

O cão, esse está no corredor da morte, e a sentença não estava dependente da sobrevivência ou não da criança, pois seria morto e ponto final. Não se trata de um violador de crianças cuja pena é mais leve se a criança abusada não morrer, e que é protegido por guarda policial, e que tem uma cela confortável onde não fica preso pelo pescoço.

O cão morreu no momento em que declararam o presumível ataque. Porquê? Alguém sabe? Alguém tentou saber?

Ah, já me esquecia… é só um cão.

E no meio de toda esta tragédia, de toda esta desgraça… como se deixa um bebé de 18 meses entrar sozinho numa cozinha escura onde está um cão a dormir…?
Porque é de toda a justiça, aqui deixo o link para a petição que está a circular, para que este Pitbull não seja abatido, mas sim recuperado para uma sociedade que ser civilizada e a favor da VIDA.
Se uma pessoa fôr assassinada por outra, esse assassino também é abatido ? No entanto é muito mais responsável que um cão !!! Abater um animal por estas razões é INJUSTO porque o animal não tem a capacidade de apresentar defesa, contando a sua versão !!! (Carlos Ricardo)
Mais informação referente a este caso aqui:
UM APELO:

Este é o Zico, o Pitbull que está no corredor da morte, para pagar um crime que não cometeu. É um ser vivo. Merece respeito. O mesmo respeito que merece a criança que morreu, devido à negligência de adultos. Por que dois inocentes hão-de pagar os erros de irresponsáveis, esses sim, que não merecem a vida que têm?
por acaso , esta veterinária não será a mesma que há uns dois ou três foi responsável pelo abate de muitos cães que desgraçadamente foram parar ao canil de Beja, assassinados em condições de tortura e sem um mínimo de dignidade que qualquer ser vivo merece ???

Tuesday, March 6, 2012

insustentável leveza do SER

era um domingo de carnaval como qualquer outro.
o sol convidava a sair , passear , apanhar uma lufada de ar fresco, da brisa do mar
Bernardo saiu pela manhã para não voltar mais à tarde a gnr veio a casa da familia dizer que tinha sofrido um acidente e estava no hospital dirigiram-se para lá para saber mais noticias não o encontravam mas a morte apanhou-o de surpresa, rápida e certeira
Ficou a mulher, ficou a mãe os irmãos e os cunhados. E os Amigos também.
Cinco dias para o funeral poder ser feito porque era carnaval porque era feriado para uns e para outros não porque nada podia ser feito. Todos o acompanharam num silencio de quem não tem palavras para dizer nada, as lágrimas já tinham secado de tanto terem corrido nos dias anteriores desde que a noticia brutal chegou.
Rita fica viúva sem o ser porque era simplesmente solteira, vivendo em união de facto com o homem que amava há mais de dez anos. Compraram casa, compraram carro e tudo o mais que um casal necessita para viver no dia a dia. Dispenderam os rendimentos de ambos para tudo isso porque ambos trabalhavam e viviam em economia comum, ambos solteiros, ambos maiores de idade, perfeitamente lúcidos, contas bancárias comuns, irs em conjunto.
Mas na prática , na lei, a união de facto não existe. Rita a nada tem direito e se quizer ficar com a casa ainda tem de pagar por ela pois os herdeiros são a mãe e os irmãos e mais as burocracias da legislação, do código civil, das pensões , dos seguros, das contas bancárias que já foram congeladas.
Rita não perdeu apenas o marido aos 31 anos... perdeu TUDO apesar de nada pagar a dor de quem passa por momentos destes.
Se nada é possivel fazer, pelo menos que quem me lê , pense em assinar os papéis no registo para evitar situações destas e reclamar para que a lei seja alterada, pois só existe para efeitos fiscais e de irs - em tudo o resto é omissa. Podia ter sido a minha filha. Não foi. Mas olho à minha volta e questiono quem poderia não estar nestas condições a generalidade dos casais novos e velhos por opção a viver em união de facto. Apenas porque sim, por amor , por convicção, por opção!

Thursday, May 27, 2010

DESPEDIDA ETERNA

Despedida eterna

Zé Luis:
começámos esta tua última viagem (tu gostavas de viagens) na cama 56 dos serviços de cirurgia 1 do Hospital de Santa Maria. Lia-te poesia e um dia parámos neste poema da Sophia de Mello Breyner:

"Apesar das ruínas e da morte
Onde sempre acabou cada ilusão
A Força dos teus sonhos é tão forte
Que tudo renasce a exaltação

E nunca as minhas mãos ficam vazias".


Assim foi.

No teu visionário e intenso mundo, a voracidade de um cancro traiçoeiro não te consumiu a alegria, a coragem, a liberdade.

Entraste pela morte dentro de olhos abertos. O mundo que habitavas era rico de ideias, de sonhos, de projectos, de honradez e carinho.

Percebemos o que ia acontecer quando no fundo do teu olhar sorridente brilhava uma estrela de tristeza. Quando te deixava ao fim do dia na cama 56 e te trazia no coração enquanto descia a Alameda da Cidade Universitária a respirar o teu ar da Universidade, das aulas e dos alunos que adoravas, do futuro em que acreditavas sempre.

Foste intolerável com a corrupção, com os cobardes e oportunistas. Não suportavas facilidades. Resististe à sordidez, à subserviência, à canalhice disfarçada de respeitabilidade e morreste como sempre viveste - livre.

Uma palavra para aqueles que te acompanharam nesta última viagem: para os melhores médicos do mundo, para as melhores equipas de enfermagem e de apoio, num exemplo de inexcedível dedicação ao serviço médico público. Vivi com emoção diária o carinho com que te cuidaram. Uma palavra de gratidão sentida para o Professor Luis Costa e Paulo Costa. E para um velho amigo de sempre o Miguel.
Também para Laura e para o Jorge e para a minha mãe e toda a família que nunca te deixou.
Por fim uma palavra para aqueles amigos que inventaram uma barricada contra a morte no serviço de cirurgia 1, cama 56, e te ajudaram a escrever, a pensar, a continuar a trabalhar: o João Gama, o João Pereira e senhor Albuquerque, cada um à sua maneira.

Suspiraste nos meus braços pela última vez cerca da 1,15 da madrugada do dia 14 de Maio. Vai faltar-me a tua mão a agarrar na minha enquanto passeávamos e conversávamos. Provavelmente uma saudade ridícula, perante a força do exemplo e da obra que nos deixaste e me foi trazido por todos aqueles que te homenagearam - a quem deixo a tua eterna gratidão.

Tenham a coragem de continuar.

[16.05.2010 - Maria José Morgado]