havia estradas nem carros, apenas um ou outro burro, algum carro de bois quando era preciso transportar algo mais.
À tarde , juntaram-se no Largo do Areal a ouvir as Concertinas Estrela da Serra. E vieram todos , novos e velhos. Fizeram rodas, fizeram o comboio, dançaram aos pares. Reparei na Prima Alcina com os seus 85 anos, batendo o compasso com o pé e fazendo uma roda com a Ti Maria que vai nos 79 bem contados mais outras duas ou três da mesma idade. Animadas , bem dispostas. Apesar dos anos, da viuvez, da solidão, do reumático e outros males, dos filhos que não tiveram ou que estão ausentes em França ou em Lisboa. Porque foi sempre assim a vida delas , quando eram novas os pais não as deixavam ir ao baile ou onde quer que fosse, que até parecia mal, fizeram a escola à pressa que o tempo era curto para as lidas da casa e o trabalho no campo, desde tenra idade.
Agora , os tempos são outros... fazem o que lhes apetece e sobra-lhes o tempo. Querem recuperar e aprender sempre mais. Estavam nas sessões de formação quando foram instalados os Ecopontos lá na aldeia, para aprenderem a separar os lixos. Agora, já há dez inscrições para os computadores: querem saber, querem poder falar com os filhos e os netos que andam por essa Europa fora... Sim, que a aldeia coordena um Projecto de CLDs, inserido no Guarda + Social.
Falamos de Avelãs de Ambom. Uma aldeia distante dez kms da Guarda, população muito envelhecida, sobretudo mulheres na faixa etária dos oitenta. Hoje são raras as que ainda vão ao campo semear qualquer coisita ou apanhar umas castanhas. Existe uma Associação para a Promoção Social, Cultural e Ambiental que está a construir um Centro de Dia mas actualmente já leva as refeições a casa dos associados, cuida dos doentes, leva-os às consultas médicas, faz tratamento de roupas e limpezas e tudo o mais que seja necessário. Porque a interioridade tem outras exigências que os citadinos desconhecem. E apesar do envelhecimento e da desertificação há um grupo de pessoas mais novas que não quer perder as suas raízes, o seu património cultural e identidade. E dão-se as mãos para preservar esta e outras aldeias, para manter o solo cultivado e reflorestado, para não permitir que a morte, o fogo e o exodo dos anos sessenta acabem por fechar a última porta ou deixem ruir mais outra casa.