Sunday, January 17, 2010

Comboios




-Entroncamento ...disse o condutor. Levantou os olhos do livro que ia a ler e lembrou-se de outras viagens, dos tempos em que fizera o estágio em Abrantes e todos os fins de semana era a mesma correria, ela e a Fernanda, colega de escola e de estágio, fazendo aquele percurso à sexta à tarde e à segunda de manhã. Um dia fartou-se que a orientadora era subdotada, tacanha, de vistas curtas e ela não esteve para a aturar. Bateu a porta, apanhou o último Sud para Santa Apolónia e partiu para outras lides.



Os combóios sempre lhe trouxeram boasnovas. Naquele ano longiquo em que fora passar férias a Pedras Salgadas, tinha então 16 anos, conheceu o primeiro namorado, uma história longa que durou sete anos e um final que há muito se anunciava. Lembrava-se bem, de uma outra viagem ao Porto, como se fosse uma ida sem regresso, da carta em cima da prateleira e dos desencontros seguintes.
Mas na memória tinha ainda bem frescas as imagens de outros comboios que apanhara para ir até à Guarda e como eram longas as viagens nesse tempo. E só eles dois sabiam, um segredo apenas deles, que as familias não tinham nada com isso.
Agora, via-se a apanhar de novo o comboio da Beira Alta, com outra comodidade, com menos demora, Santa Apolónia deixara de ser o eixo central , agora na Gare do Oriente. Fazia-se um desvio ao Shopping , e em dias de sol, era possivel almoçar na varanda com as gaivotas a esvoaçar por perto, esperando um pouco de pão ou uma batata frita.
O Tejo sempre por perto, a leziria inundada, Vila Franca , Santarém , Entroncamento ... nunca mais gostou dessa zona, por outros motivos também , que nem vinham ao caso. Mas não gostava do Ribatejo. Coimbra, vista do comboio era feia; os arredores decadentes, abandonados, envelhecidos. Preferia então os penhascos, a rudeza do granito, as pedras arredondadas sem vegetação, um casebre aqui e além, a paisagem agreste, dura, sombria, de poucas falas como as gentes daqueles locais. Lembrava-se do mini-comboio da linha do Douro, dos percursos da Régua até Pedras, comparava as pessoas .
Decididamente o seu lugar não era mais em Lisboa !
Uma vez mais era o comboio que lhe trazia a noticia, como sempre .

2 comments:

bettips said...

Eu sou das pessoas que pensam que sair e mudar faz BEM! A mim faz-me.
(ontem tinha passado aqui, chá verde ...)
Das árvores, nem me contes...é uma loucura colectiva cá por estas autarquias adiante. Tinha visto imagens das tílias de S. Pedro de Sintra, via bog Praia das Maças.
Bj

Violeta said...

Espero que boas notícias...
bjs