Salomé era a brisa leve que vagueava pela casa cumprindo o seu dever; mas a sua presença, como a esponja que no mar recolhe a água, parecia sorver o som dos pássaros, a alegria das crianças , o cheiro do pão e tudo o que celebramos como tempero da vida.
Eu refugiava-me na oficina aperfeiçoando a arte, de forma que me procuravam de muitos lados, porque quem se sentasse numa cadeira de minha feitura experimentava nela o calor de um colo, e tendo embora os braços a quietude da madeira neles se sentia o pulsar das veias.
Os meus arados levantavam a terra sem esforço, como se lavrassem o mar; as minhas rodas ao girar sobre as pedras pareciam pairar, e não assustavam os animais da terra ou as aves do ar.
Da minha inspiração nascia o que apenas à mulher e a Deus pertencem: o conforto do regaço que acolhe e , ao abraçar, perdoa.
(Vale a pena ler e saborear estes textos de Nuno Lobo Antunes)
2 comments:
Ainda não li, mas abriste-me o apetite:))))))
ainda não acabei de ler mas a escrita de Nuno é de uma suavidade deliciosa.
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