Sunday, May 19, 2013

Em Nome do Pai


Salomé era a brisa leve  que vagueava pela casa cumprindo o seu dever; mas a sua presença, como a esponja que no mar recolhe a água, parecia sorver o som dos pássaros, a alegria das crianças , o cheiro do pão  e tudo o que celebramos como tempero da vida.
Eu refugiava-me na oficina aperfeiçoando a arte, de forma que me procuravam de muitos lados, porque quem se sentasse numa cadeira de minha feitura experimentava nela o calor de um colo, e tendo embora os braços a quietude da madeira neles se sentia o pulsar das veias.
Os meus arados levantavam a terra sem esforço, como se lavrassem o mar; as minhas rodas ao girar sobre as pedras pareciam pairar, e não assustavam os animais da terra ou as aves do ar.

Da minha inspiração nascia o que apenas à mulher e a Deus pertencem: o conforto do regaço que acolhe e , ao abraçar, perdoa.

(Vale a pena ler e saborear estes textos de Nuno Lobo Antunes)

2 comments:

Justine said...

Ainda não li, mas abriste-me o apetite:))))))

greentea said...

ainda não acabei de ler mas a escrita de Nuno é de uma suavidade deliciosa.