Quando o estio entra entristeço.
Parece que a luminosidade, ainda que acre, das horas estivaes devera acarinhar quem não sabe quem é. Mas não, a mim não me acarinha. Há um contraste demasiado entre a vida externa que exhubera e o que sinto e penso, sem saber sentir nem pensar – o cadáver perennemente insepulto das minhas sensações. Tenho a impressão de que vivo, nesta pátria informe chamada o universo, sob uma tyrannia politica que, ainda que me não opprima directamente, todavia offende qualquer occulto principio da minha alma. E então desce em mim, surdamente, lentamente, a saudade antecipada do exílio impossível.
9-6-1934
Bernardo Soares - O Livro do desassossego
9-6-1934
Bernardo Soares - O Livro do desassossego
6 comments:
O Verão antecipa os dias pequenos... é um pouco como o síndroma de Domingo que já nos desestabiliza!
No estado em que está a pátria, a vontade de exílio é quase permanente...
mfc
sim , antecipa a noite escura e infindável ...
justine
se já Bernardo Soares sentia essa angustia em 1934...
Gosto do Verão, dos dias quentes e grandes, do mar, da luminosidade intensa... e gosto muito da escrita de Fernando Pessoa em qualquer estação.
Bem-hajas!
Beijinhos
gosto muito do Livro do Desassossego e gosto muito do Verão em toda a sua plenitude, Isamar
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