Tuesday, February 23, 2010

A Estrada Nova da Rainha


Tinha de ir a Magoito. Ia lá com frequência, lá morara durante vinte anos, lá criara a filha, lá viveram os seus cães.
Naquela tarde de inverno, caía uma chuva miudinha e não lhe apetecia apanhar a estrada normal , o caminho de sempre pela IC19-Terrugem-Magoito.


Foi direita a Sintra, passou a Lawrence's , a Quinta da Regaleira e subiu a Seteais




Fez a Estrada Nova da Rainha
passando a Monserrate, subindo ao cimo da Serra e descendo até Colares , junto à Quinta da Marquesa do Cadaval ;
passou à Fonte dos Ladrões
onde em míuda tantas vezes fora fazer piqueniques com os pais
Sentiu o cheiro da serra, do arvoredo, da terra molhada, da chuva .
Passou pelo Rio das Maçãs e espreitou os patos da ponte onde tanta vez foi com a filha para lhes dar pão que eles vinham comer à mão













Espreitou novas cores e novos sons, atravessou a Praia das Maçãs, as Azenhas, a Aguda e Fontanelas.
Tomou a Estrada de A-dos-Eis para encurtar caminho, viu o mar e a praia lá ao fundo , recortada pelos três moinhos e pelas vivendas novas , recém construidas.
Chegou ao destino com alma nova e energias redobradas, que a Serra tem essa particularidade - uma delicia para os sentidos.







Sunday, February 21, 2010

An education.

Sozinha em casa , o tempo é todo dela, sobretudo em fins de semana de chuva ...
Como é seu hábito , deitou-se tarde, muito tarde . Não que estivesse a fazer algo de especial, mas apenas e só porque não lhe apetecia dormir . Ouvia o vento lá fora a rugir, a chuva forte a bater no chão e só isso lhe tirava o sono.






Domingo de manhã, dormiu até ao meio-dia. Já não se lembrava da última vez que isso acontecera, mas uma vez não são vezes. Tomou o pequeno-almoço, foi à net ver os filmes em cartaz. Banho tomado e roupa mudada , aí vai ela ...
Não que lhe agrade propriamente o estar sozinha , agora ; mas delicia-se com o facto de não ter horas , de arrancar de casa quando quer, de ir aonde muito bem lhe apraz. E quando há outros à volta nem sempre é possivel e o que agrada a uns não agrada aos outros. Fernando aceitara aquele cargo noutra localidade distante, a filha estava demasiado crescida para estar sempre debaixo da sua asa e estava de férias depois de ter feito todos os exames do Mestrado . Que mais queria ?
Pois queria ir ao cinema! Havia duas escolhas : "Um Homem Solitário" ou "An education" e decidiu-se por este último e não se arrependeu. Óptima ideia a sua .
Ao fim da tarde estava em casa, que o dia estava chuvoso e tristonho . Acabou aquelas tarefas monótonas que todos somos obrigados a fazer, estendeu a roupa, preparou qualquer coisa para jantar e ligou para Fernando. Tinham aquela capacidade de estar longe e perto , de retomarem as conversas como se estivessem lado a lado, tratando de pequenos e grandes asuntos em simultaneo.
...
Não me posso demorar - disse ele. Devem estar a chegar. Vou pôr o peixe no forno , tratar das batatas, partir o ananás. É preciso pôr alguma coisa no fundo do tabuleiro?
Claro, põe um pouquinho de azeite . E não faças o ananás que o Tiago não pode comer. Não há maçãs? - perguntou ela .
Sim , o Guerra tinha deixado maçãs , saborosas e carnudas, com gosto a fruta , não maçãs de frigorifico.
Ficou contente por ele ter a companhia da filha e do namorado para o jantar. Ficou contente por ele ser capaz de gerir a ausencia, a estadia fora, os pequenos senãos do dia-a-dia, a limpeza da casa , as roupas e essas cenas todas, para além do trabalho.
Sorriu interiormente em geito de despedida. Quinta-feira já estariam todos juntos de novo, ela iria acelerar a semana, condensar tudo o que tinha para fazer e pegar no carro para galgar os trezentos e tal kilometros que os separavam. Era apenas e só por isso que gostava de estar só. Assim , organizava tudo a seu modo, sem depender de ninguém, pagando um preço caro por vezes, mas sentindo um prazer enorme por tudo aquilo que conseguia fazer.
Fora também para ela Uma outra educação!

Thursday, February 18, 2010

Neve branca e fria

Sexagenários : novos ou velhos não o sabiam nem se lembravam da idade que tinham - era assim há muitos anos. Mas mantinham-se jovens como muitos outros não o conseguiam.
Sábado, vamos dar uma volta - disse ela.

Talvez não possa , mas vamos no domingo. Ficou combinado.

À noite, a irmã dele telefonou a dizer-lhes para irem almoçar mas recusaram - já tinham um compromisso.

Saíram pela manhã, que o dia estava gélido. Percorreram campos inóspitos, pedras desmesuradas, recortadas pela invernia e pelo vento do planalto, Terras do Demo, como dizia Aquilino. Entraram nos Castelos, visitaram fortalezas, muralhas, galerias, picadeiros, feiras de outrora, feiras de queijos, de fumeiro, de artes tradicionais, sentaram-se à mesa para conversar e petiscar. Não deram conta do frio que fazia para aquelas bandas, precedendo o nevão .

Chegaram a casa noite adentro, a lareira acesa, o lume crepitando.

Sem se lembrarem que era Carnaval , tiraram as máscaras e festejaram o dia dos namorados, como ninguém à sua volta o fez.

E sorrindo , enleados, adormeceram felizes.

Na manhã seguinte, ela levantou-se rápida mal o telemovel tocou às oito em ponto. Foi à janela e deixou -se extaziar com a brancura da neve que cobria tudo à sua volta e não parou de cair durante muitas mais horas.

Wednesday, February 10, 2010

para os meus cães zen





























Ah! se o meu cachorro soubesse falar
eu passaria horas com ele a conversar sobre a minha vida,
e ele,com toda paciencia,
ficaria a me escutar,
e depois, num gesto amigo, me lamberia.
As noites de insônia não me atormentariam jamais,
pois discutiríamos sobre a beleza das estrelas no céu,
e outras cousas que não me recordo mais.
Não me importaria se fosse ele grande ou pequenino,
desde que dividisse um pouco de si comigo,
contando-me histórias sobre o universo canino.
E ao amanhecer,
todo contente me falaria,
que melhor dono no mundo não existiria!
Além de falante o meu cão seria zen.
Teria sempre alguma palavra sábia a dizer,
que contaria a mim e a mais ninguém!
Não que fosse ele egoísta,
ou quisesse algo esconder,
mas apenas em mim o animal confiaria.
Ao fitar seus olhos envolventes
eu de todo me entregaria
numa cumplicidade sem igual,
jamais vista anteriormente.
E a cada sílaba proferida,
eu cada vez mais me orgulharia,
do cão meu tão singular,
que pelo resto da vida me amaria.
Ah se o meu cachorro soubesse falar,
se acabaria, enfim, a minha melancolia.
Ah,se ao menos um cão pudesse me amar.

enviado pela violeta HÁ UM ANO ATRÁS.




Em memória de todos os cães que tive, nascidos em nossa casa ou recolhidos na rua, que me amaram, me ajudaram em momentos menos bons, cresceram com a miúda e tomaram conta dela, por tudo o que nos deram, ao longo de tantos anos.



Curiosamente, falecidos a 11 de Fevereiro quer o primeiro de todos quer o último

Tuesday, February 9, 2010

Mecanica Quantica



Conferência “A mecânica Quântica: aplicações comuns e implicações incomuns”

Desde os discos rígidos dos nossos computadores, aos leitores laser dos DVDs, desde as fotocopiadoras de fotocondutor até aos transístores dos nossos telefones móveis, a revolução da mecânica quântica moldou as nossas vidas sem que nos tivéssemos apercebido disso. Mas, mais do que uma revolução tecnológica, a mecânica quântica é uma revolução conceptual que nos convida a revisitar o modo como apreendemos o mundo. Esta conferência convida-nos a entrar neste universo simultaneamente fascinante e desconcertante e nas suas múltiplas aplicações. É acessível a todos as pessoas curiosas em descobrir o que há de especial na mecânica quântica.
Solicita-se um contributo (voluntário) entre 5 e 10 € para ajudar a cobrir as despesas de deslocação do Prof. Lemery.
Caso não possa dar esse contributo não deixe de aparecer. É sempre bem-vindo(a).
Data: 19 de Fevereiro de 2010 às 19h00
Local: Sede da Sangha Rimay Lusófona
R. Maria 15, Lisboa (aos Anjos)
Contactos: mailto:SanghaRimayLusofona@gmail.com?subject=C%C3%A9dric%202010
(+351) 933 284 587
por Cedric Lemery
19 de Fevereiro de 2010 às 19h00
Sede da Sangha Rimay Lusófona
R.Maria 15, Lisboa (aos anjos)





Para receber informações sobre este e outros eventos da Sangha Rimay Lusófona, introduza o seu endereço de correio eletrónico e pressione o botão enviar.
http://www.sangharimaylusofona.net/
mailto:SanghaRimayLusofona@gmail.com?subject=Cedric%202010

Wednesday, February 3, 2010

Folgosinho




Sobranceira e majestosa, ergue-se a Nascente e Sul, uma enorme cordilheira em que sobressaem os montes de S. Domingos (1270m), S. Tiago (1490m) e a Santinha (1590m), donde descem três ribeiras que, na sua passagem, movem moinhos e irrigam as margens declivosas e profundas, seguindo em direcção a Melo e ao Freixo: a dos Limites, a das Moitas e a da Fórnea que mais á frente vão engrossar o caudal do Mondego que já passou na Assedace, abraçou Celorico da Beira e inflecte, pressuroso, em direcção a Coimbra onde pára, para ouvir as canções dos estudantes e os gemidos das guitarras coimbrãs, em noites de fados e serenatas, e vai finalmente precipitar-se, no Oceano, na Figueira da Foz, extenuado da longa caminhada.(...)


Esta povoação de difícil acesso e fácil defesa, nos primórdios da sua existência, quase inacessível, antes da abertura da estrada nacional, em 1914, que a liga a Nabais e segue para o Freixo, nasceu e cresceu entre dois pólos opostos, o castelo e o Outeiro, dois possíveis castros pré-históricos, com a igreja Matriz, a Praça e as Casas da Câmara, ao centro, para onde convergem todas as ruas, atalaia vigilante das invasões inimigas, sobretudo dos Sarracenos e Leoneses, formando com LINHARES e CELORICO um triângulo defensivo contra as arremetidas do inimigo, pelo vale do Mondego.

O Rei D. Sancho I deu-lhe foral em 1187, tendo em vista, sobretudo, a sua posição chave, na estratégia defensiva da Beira .

A situação altaneira de Folgosinho permite-lhe oferecer um espectáculo deslumbrante a perder de vista, no horizonte infindo, pintalgado de inúmeras povoações dos concelhos de Mangualde, Gouveia, Fornos de Algodres e Celorico da Beira, mas, se subirmos a S. Tiago, Viseu e Guarda oferecem-se acolhedoras aos nossos olhos extasiados de tanta beleza e imensidão.