Comeram juntos o último Mon Chéri , despediram-se (uma vez mais ) e ficou especada na rua deserta a vê-lo partir, sentindo uma lágrima a saltar pelo canto do olho ...
Sabia que seria assim , já o pressentira há dias, aquela tristeza surda a invadi-la, a vontade de ficar enrolada no sofá sem falar, sem comer, sem nada fazer, as noites sem o sono chegar. Mas assim tinham decidido. Ela até o incentivara a aceitar aquele cargo numa terra distante que afinal era a dele, tudo pelo desenvolvimento económico, social e ambiental do local; ele sorrira com as ideias loucas dela , mas congratulou-se por ela ser assim.
Afinal , sempre tinham vivido em casas separadas, cada um na sua, qual Sartre e Simone de Beauvoir, mesmo depois de a filha ter nascido, contra tudo e todos. Só há bem poucos anos tinham decidido juntar os trapinhos porque eram diferentes, informais, avançados no tempo e na época. Ela sempre vivera só, desde os vinte anos , a familia nunca a aceitando bem desde que nascera. Habituara-se a passar natais e fins de ano sem ninguém , completamente só - por vezes, decorava a casa e fazia uma ceia à luz das velas , só para ela; noutros anos não fazia nada, rigorosamente nada; uma vez , até passara a noite de natal num qualquer quarto de hotel , em África, não havia jantar mas o room-service mandou-lhe um bife duro e gelado lá pelas dez da noite sem mesmo um champagne para esquecer as mágoas ...
Pois ... tempos novos se avizinhavam, noites frias e dias ocupados, sem a pressa de chegar a casa porque ele também estava a chegar, sem a obrigação de fazer o jantar ou levantar-se de manhã para tomarem o café juntos ou darem dois dedos de conversa - como era possivel ao fim de tantos anos ainda terem tanto para dizer ou para dar?
Abraçaram-se uma vez mais . Sorriram num adeus de despedida, num tão longe e tão perto que só os aproximava mais. E ele partiu.
Ligou-lhe a meio caminho , para saber se ela estava bem , para lhe dizer que tinha parado aonde ela dissera e comprara a pen que lhe fazia falta. Ligou-lhe quando chegou.
Ela ficou o resto do dia em casa, a arrumar coisas, pôr outras em ordem , a escrever no blog o que lhe ia na alma . A olhar pela vidraça a chuva que caía lá fora ...
9 comments:
Eu nem vou dizer nada porque de despedidas a minha vida foi feita. Mesmo que nunca me despeça de ninguém sempre tenho que partir.
Estamos juntas nisso.
beijos doces.
E a isso eu chamo amor...
bjs
pitanga
também a minha
quando penso que cheguei ... já estou a partir outra vez !!
violeta
tu o dizes , minha linda !
o amor reveste tantas e tantas formas ...
Pungente, esta despedida de amor sem desistência do amor. E é também o retrato de uma mulher forte, decidida e corajosa. Excelente texto:))
Desculpa o pleonasmo:-
Se o amor existe, há sempre amor. O amor quando começa ,morre connosco, caso contrário chamem-lhe outra coisa e, não amor.
Reparem que até os amores perfeitos são sempre amores desde que abriram seus olhos perante um sol consolador, até morrerem.
Agora mudando de assunto. Já sei que este ano houve produção de mel por esses lados. Eu também tirei algum, mas muito pouco, pois só tenho uma abelha.Para mim o melhor gozo que tenho é prostar-me junto ao apiário e vêlas entrar e sair numa grande azáfama. Considero que já tive a sorte de estar junto ao apiário e ver uma enxameação.Coisa mais bela não haverá na natureza. Era um enxame pequeno, deu para ir ao seu ncontro e fazê-lo voltar a uma casa nova. Só me aconteceu isto uma única vez na vida. Tem uma boa semana, pois amanhã é feriado e dia de aniversário do meu neto. Lá estarei. Um beijo
justine
podes crer q é uma Mulher bem forte, bem viva, corajosa que sempre lutou contra tudo e contra todos !
joão
os meus amores perfeitos estão lindos , apesar do mau tempo - só os tirei da chuva mas continuam na rua , um pouco abrigados ...
quanto às abelhas vêm aqui ao jardim mas não é aqui q tenho a tal da colmeia donde tirámos o mel - essa está lá para os lados da Serra da Lomba ....
É aqui que deixo o meu aceno: que o verde (sem lágrimas) te conforte. Uma prosa de beleza, resignada mas Beleza de amar de mãos abertas.
Abçs
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