Há dias atrás procurei por tudo o que era sítio a bendita chave da arrecadação , para ir buscar qualquer coisa que precisava. Normalmente, deveria estar no chaveiro atrás da porta principal pois não a trago junta com as outras chaves, mas há imenso tempo que não me servia dela ... Corri os armãrios, vasculhei nas carteiras (ah! as carteiras das mulheres !), procurei nos bolsos dos casacos, na mesinha , na cozinha, na cómoda , na secretária ... Tive de esperar pelo Green e ouvir os respectivos sermões sobre organização e métodos , que tanto me aprazem.
Bem , esqueci o incidente e o assunto ficou arrumado. Na 6ª ao fim do dia , o Green saiu pois tinha uma Assembleia lá na aldeia, em que ele é o Tesoureiro. Não me apeteceu ir e encantei-me com a noitada , fazendo o que muito bem me apetecia, jantando a dezoras, acendendo as velinhas que tanto gosto e os respectivos incensos e lendo , sem pensar nas horas. Sábado levantei-me não muito tarde pois tinha compomissos e era preciso ir buscar a Miss e mais uma data de coisas.
À noite, já bem escuro fui ainda dar uma volta com o cão, como é habitual antes de nos deitarmos. Conheço muito bem o trajecto, ele também, ambos farejamos tudo , o caminho é bem iluminado, embora no final da estrada tudo esteja revolvido por umas obras de canalizações novas. Não havia vivalma, nem cão nem gato por perto nem sequer os coelhos que às vezes atravessam a estrada. Pois não sei como nem porque não , "estampei-me" ao comprido , joelhos e mãos no chão que não sei como consegui levantar-me e chegar a casa. Tal foi o tombo que na manhã seguinte fui ao Centro fazer um penso em condições e tive de levar a vacina do tétano...
Apesar disso , fui ainda dar a voltinha com o cão, quando cheguei . Por causa das obras, há umas redes a barrar o caminho , em certas zonas . Passo ali todos os dias, várias vezes ao dia, bem à luz do Sol , o Green também. Pois ontem, quando olho de relance para a rede não tive a mínima dúvida : a minha chave da arrecadação lá estava , toda enferrujada, com o respectivo porta-chaves de madeira bem ressequido de estar exposto ali há meses, claro!
Entretanto, descobri casualmente que afinal o cão abandonado que supostamente eu alimentava todas as cnoites, sem nunca o ter visto aliás, mas "sentia" o seu rasto sobre as folhas caídas no chão e a comida desaparecia. Há dias ouvi uns guinchos estranhos e fui buscar a lanterna - afinal o meu cão eram apenas uma familia de ratazanas que se deliciavam com o cestinho de comida que eu todos as noites deixava por ali...
Para finalizar , hoje andava a limpar uns vasos das folhas secas e das ervas e atirei algumas pela borda fora , pois do outro lado apenas há mato. No ar , elevou-se um pássaro que desconheço, rodopiou várias vezes em torno do jardim e depois foi-se distanciando vagarosamente até se esconder para além de um pinheiro que existe no fundo da rua...
Que mais me irá acontecer ? !