Fim de tarde . Entro em casa, o cão salta de alegria, pouso as coisas , mal tenho tempo de despir o casaco. Toca o telélé...algures enfiado na carteira.
- Mãe, esqueci-me de dizer que o Tomás ia jantar. Tens alguma coisa a jeito ?
- Há sempre qualquer coisa para mais um , remedeia- se sempre . A minha Avó que passou pelas duas grandes guerras e pelas revoluções do tempo da monarquia/república e respectivos racionamentos , fazia sempre comida a mais para alguém que aparecesse de surpresa. Ficou viúva com 35 anos e quatro filhos e sobreviveu a esses tempos duros.
Sentamo-nos à mesa para jantar , os quatro.
- Temos uma coisa para contar - começa ela, mal tínhamos pegado nos talheres. Vamos alugar casa na Ajuda, tem vista para o rio, fomos ver há pouco , gostámos muito e já era tempo de o fazermos.
Claro, já era previsível há tempos que isso iria acontecer, mas é sempre uma surpresa, nunca se está à espera de ver a nossa filha ir embora assim , de um dia para o outro, de um momento para o outro. Mas com ela as transições foram sempre assim, fáceis, ultrapassáveis, sem pruridos, sem conflitos.
Foi assim quando entrou para o infantário, para a primária, para o ciclo, para o décimo ano, quando foi para a faculdade e esteve fora três anos, quando disse que ia fazer o mestrado noutra faculdade , quando defendeu a tese, quando começou a trabalhar.
Por outro lado , a Mãe sempre teve a noção de que os filhos são deles próprios desde o dia em que cortam o cordão, e não nossos. Sempre foi uma Mãe muito independente, muito avançada para o seu tempo e assim criou a filha. O Pai partilha das mesmas ideias .
Combinámos ir ver a casa, conhecer a zona, assinar os contratos, os dois filhos e os pais de ambos . Foi bom para todos que assim fosse quebrando alguma amargura que pudesse existir ou algum gelo... Inspecionada a casa, o local e o senhorio, afinal colega de um curso de dança da outra mãe, tudo acabou em risos e conversas leves com muitos planos à mistura .
Pensamos que cumprimos a nossa tarefa , que a carreira de Mãe acabou aqui , vinte e sete anos após o inicio. Mas não o creio. Há sempre tanta coisa para partilhar com os filhos, tanta coisa para fazer agora que temos mais tempo livre e ficamos de novo a sós com o carametade. E tanta coisa que não fizémos ...
Uma nova etapa que começa ! Novos horizontes se adivinham ...
Wednesday, January 21, 2015
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6 comments:
Que bom que isso aconteça, olha eu tenho o meu da mesma idade com engenharia feita há tempos e agora sem emprego...do futuro dele não sei...vou-me sentindo feliz por o ter em casa.
Boa sorte para a filhota
Bjs
Lilás
sente-se um misto dos dois sentimentos - a alegria por eles mas também um certo vazio q a ausencia vai provocar mas é o curso natural...
tem trabalho para já até junho, depois ninguém sabe ainda se a empresa continua se tem trabalhos , se ganha mais projetos (de engenharia, na área das renováveis )
tudo de bom para o teu menino, q arranje colocação rápidamente, agora é o mais importante ! bjs para ti
Minha querida, já passei por tudo isso, entendo o que sentes...
Mas sempre pensei que quando os nossos filhos vão para a faculdade...adeus...não voltam para casa....
Sim, os filhos não são nossos...
Daí para a frente só poderemos esperar que as asas que ganharam (porque lhes demos...) os levem bem alto, para uma vida de sucesso...
Coragem....
Beijinhos
gIRASSOL
É ISSO QUE PENSO , TAMBÉM. QUE AS ASAS OS LEVEM BEM ALTO PORQUE ELES MERECEM (E NÓS TAMBÉM ...)
BEIJINHOS PARA TI
Uma nova etapa sim, mas a carreira de mãe nunca termina, por vezes até tem picos de importância, já bem na velhice - isto digo eu que sou mãe há 45 anos...
Se esta é a vista da janela, terão muito o que sonhar, esses dois. Felicidades.
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