Decidira participar naquela caminhada, naquele percurso serra acima desvendando os desassossegos de Sintra, os amores que cada casa, cada fachada, cada palácio ou cada vereda evocam. O dia estava chuvoso e o nevoeiro cobria as copas das árvores centenárias que sabiam de cor todas essas lendas e os mistérios que as envolviam. Partiram da Quinta dos Lobos que outrora , muito outrora , pertencera a D. Manuel I e fora palco de muitos amores... Mais acima , o Penedo da Saudade evocado n'Os Maias por Eça que tantas e tantas vezes visitou Sintra , percorrendo estas veredas.
Mas ela apenas podia estar agradecida e comovida, não desassossegada. Sete meses tinham passado desde aquela tarde em que abrira o Relatório do Médico e em que constatara que agora não podia mais deixar arrastar ou deixar para trás a sua saúde. Fez mais exames, fez tratamentos , fez uma cirurgia de alto risco. fez tudo o que tinha para fazer. Saíra do Hospital há dois meses e a recuperação foi lenta e longa, ainda tinha dificuldades por vezes, limitações sem dúvida.Mas depois da consulta de sexta-feira todas as dúvidas lhe foram tiradas quando o doutor afirmou peremptório que não havia mais tratamentos a fazer, mais drogas, comprimidos ou soros. Acabara-se!!
Que voltasse para casa feliz e descansada, fizesse caminhadas, ginástica, natação ou hidroginástica, exercício e tudo o que lhe desse prazer. E com um grande sorriso cúmplice terminou :" Espero nunca mais ter de a ver à minha frente"! Reciprocidade e cumplicidade acima de tudo .
Novos caminhos se abriam à sua frente, em Sintra ou num qualquer outro lado...