Monday, August 15, 2011

povo que lavas no rio














Ha anos atrás, quando a minha filha era criança, morávamos em Magoito, perto do Pinhal. Ciclicamente, apareciam por lá familias ciganas que montavam as suas tendas e por ali se deixavam estar. Passavam sempre à nossa porta, em direcção ao Lavadouro da Tojeira.







De Verão ou de Inverno, os miúdos iam para baixo sujos, desgrenhados, as roupas cheias de uso... Por vezes, pediam uma bolacha ou uma fruta mas nunca houve qualquer problema. com eles.
Para cima , vinham impecavelmente lavados e penteados mas ...nuzinhos de todo, a apanhar as últimas resteas de sol que em Magoito nem sempre é pródigo em fins de tarde. A cigana ia ao Lavadouro público lavar as roupas e dar banho aos garotos. Mandava os gaiatos para "casa" e vinha atrás com o alguidar da roupa para estender.








Já andei a fazer o circuito dos lavadouros, fontes e chafarizes do Concelho. E vou fazer como a cigana -acho que não há nada melhor que voltarmos aos tempos do antigamente e irmos lavar a roupinha à rua dando de novo vida a estas maravilhas que estão por aí ao abandono.


Qual máquina da roupa, qual contrato com o smas , qual contador bi-horário! E nem sequer me venham falar do aumento das taxas do iva para 23%. Que se estavam a contar com a minha receita para encher os cofres do estado, podem tirar o cavalinho da chuva.















E quando já não puder, faço como a minha avozinha que morreu com 87 anos e sempre entregou as roupas lá de casa ao cuidado da senhora Maria, Lavadeira de Caneças. Vinha de 15 em 15 dias, entregava a roupa lavada, trazia uma bilha de água de Caneças e meia dúzia de queijos frescos, levava o saco da roupa suja, fazia-se o rol e nunca faltou uma peça, nunca trocou um lençol e chegava sempre a horas com tudo impecavel. Não passava factura nem cobrava iva, mas recebia na hora pelo serviço prestado.

Como os tempos mudam...




17 comments:

João Roque said...

Há por lá lavadouros muito bonitos.

Justine said...

Sim, os tempos mudaram muito - mas nós podemos dar um jeitinho para que melhorem! O teu "levantamento" dos lavadouros, assim como a sugestão, é muito interessante:)))

greentea said...

pinguim

por Sintra há coisas lindissimas

greentea said...

justine

os tempos e certas atitudes têm mesmo de mudar, mas podes crer que temos de encontrar alternativas para as taxas de iva escandalosas q nos querem impingir enquanto outros desviam milhões para paraisos fiscais (e nada lhes acontece...)

Elvira Carvalho said...

Excelente post. Na minha meninice na Seca do Bacalhau da Azinheira, existiam dois tanques assim onde o pessoal que vinha do norte para a safra do bacalhau, iam lavar as roupas. Os dois tanques ficavam na quinta do Bernardino. Era o tanque novo e o tanque romano. Chamavam-lhe assim porque era um tanque muito antigo e tinha umas estranhas figuras de leão no cimo.Tinha 15 tábuas.O tanque novo era um tanque simples de cimento com umas 20 tábuas que davam para 20 mulheres lavarem ao mesmo tempo.
A minha mãe também ia para lá lavar as nossas roupas, mas quando o meu pai fez o poço passou a lavar lá mesmo ao pé do poço. Primeiro numa celha de madeira, que o meu pai fez de um pipo cortada ao meio, que servia para ela lavar a roupa e para nós tomarmos banho, mais tarde num tanque de cimento que meu pai fez ao lado do poço.
Um abraço

Pitanga Doce said...

Minha avó lavava roupa para fora e quando veio para o Brasil sentia falta do tanque público. Achava estranho como as pessoas podiam lavar lençois e colchas em tanques tão pequenos e dentro de casa. Lembro-me do cheiro de anil que a roupa tinha.

Aí para "os nossos lados", na minha rua, há um tanque que foi restaurado agora e onde há dezenas de salgueiros à volta. Tão lindo!

Anonymous said...

Ainda me lembro de ver aminha mãe a "fazer o rol"com uma lavadeira que ia lá a casa todas as segundas-feiras.

Lilá(s) said...

Bons tempos, e boas recordações que ficam...
Bjs

mfc said...

Autênticas memórias...

greentea said...

elvira

os tempos eram outros , talvez as crianças fossem mais felizes e o convivio entre as maes mais saudável... talvez seja bom repensarmos a nossa maneira de estar...

greentea said...

pitanga

felizmente há quem ainda tenha estas memórias!!!

greentea said...

Carlos

não sei a que dia ia a sra Maria Lavadeira , mas chegava de 15 em 15 dias sempre a sorrir com a trouxa à cabeça e nunca faltava uma peça de roupa

greentea said...

lilas

pois ... era outra coisa na nossa meninice...
será q voltamos ao mesmo ???

greentea said...

mfc

sem dúvida, lembro-me de lavar ainda roupa no tanque e era bem giro ...

vieira calado said...

O tema inspirou-me um poema em Algarve Ontem, um meu recente livro.

Era uma cena bucólica, inesquecível,
ver essas mulheres a lavar a roupa nas ribeiras!

Saudações poéticas!

greentea said...

Vieira Calado

provavelmente voltaremos a vê-las em breve nos rios e nos lavadouros para poupar no custo da água e da luz...

vieira calado said...

Olá, como está?

Registei o seu interesse no meu livro "A febre do Ouro"

mas devo dizer-lhe que ele irá apenas para livrarias aqui no Algarve.

Mas pode ainda beneficiar do seu custo (preço muito baixo, de Feira do Livro),

tal como "Algarve Ontem" também recém publicado.

Posso enviá-los daqui, autografados, ao preço de 5 euros, cada.

Depois me dirá, tá bem?

Saudações cordiais!