Tuesday, September 1, 2009

A Queimada

Esta manhã , contemplei ao longe a queimada. Do outro lado do rio, extensões imensas se consumiam num ápice. Não era a terra que se convertia em chama : era o próprio ar que ardia todo o céu era devorado por demónios.
Mais tarde, quando as labaredas serenaram, restou um mar de cinza escura.
Na ausência de vento, particulas flutuavam como negras libélulas sobre o carbonizado capinzal. Podia ser um cenário de fim de mundo. Para mim, era o oposto: era um parto da Terra. Apeteceu-me gritar pelo teu nome...
Escutar-se-ia longe, este meu grito. Afinal, neste lugar, até o silêncio faz eco. Se existe um sítio onde eu possa renascer é aqui onde o mais leve instante me sacia. Eu sou como a savana: ardo para viver. E morro afogada pela minha própria sede.
Mia Couto - Jerusalém

5 comments:

Justine said...

Foto adequadas às palavras belas de Mia Couto.
Saudades de África...

greentea said...

podes crer, justine

Violeta said...

greentea
mas que grande susto...
bjocas

greentea said...

queimadas africanas nada têm a ver com as de Belas há dias , as do Sabugal, Sortelha, Sobral da Serra, Avelãs de Ambom , Pera de Moço e ontem de manhã uma fábbrica em Mem Martins...tudo a preto...queimado...

Si said...

Entrei, espreitei e gostei deste canto, mas sobretudo gostei de ler as passagens de Mia Couto, que tanto admiro.
Agradeço a visita à minha casa, e deixo a porta aberta para quando quiser voltar, sozinha ou acompanhada destas vizinhas de cima (olá Violeta, tudo bem, Justine??)
;)