Tuesday, January 27, 2015
Wednesday, January 21, 2015
novos horizontes
Fim de tarde . Entro em casa, o cão salta de alegria, pouso as coisas , mal tenho tempo de despir o casaco. Toca o telélé...algures enfiado na carteira.
- Mãe, esqueci-me de dizer que o Tomás ia jantar. Tens alguma coisa a jeito ?
- Há sempre qualquer coisa para mais um , remedeia- se sempre . A minha Avó que passou pelas duas grandes guerras e pelas revoluções do tempo da monarquia/república e respectivos racionamentos , fazia sempre comida a mais para alguém que aparecesse de surpresa. Ficou viúva com 35 anos e quatro filhos e sobreviveu a esses tempos duros.
Sentamo-nos à mesa para jantar , os quatro.
- Temos uma coisa para contar - começa ela, mal tínhamos pegado nos talheres. Vamos alugar casa na Ajuda, tem vista para o rio, fomos ver há pouco , gostámos muito e já era tempo de o fazermos.
Claro, já era previsível há tempos que isso iria acontecer, mas é sempre uma surpresa, nunca se está à espera de ver a nossa filha ir embora assim , de um dia para o outro, de um momento para o outro. Mas com ela as transições foram sempre assim, fáceis, ultrapassáveis, sem pruridos, sem conflitos.
Foi assim quando entrou para o infantário, para a primária, para o ciclo, para o décimo ano, quando foi para a faculdade e esteve fora três anos, quando disse que ia fazer o mestrado noutra faculdade , quando defendeu a tese, quando começou a trabalhar.
Por outro lado , a Mãe sempre teve a noção de que os filhos são deles próprios desde o dia em que cortam o cordão, e não nossos. Sempre foi uma Mãe muito independente, muito avançada para o seu tempo e assim criou a filha. O Pai partilha das mesmas ideias .
Combinámos ir ver a casa, conhecer a zona, assinar os contratos, os dois filhos e os pais de ambos . Foi bom para todos que assim fosse quebrando alguma amargura que pudesse existir ou algum gelo... Inspecionada a casa, o local e o senhorio, afinal colega de um curso de dança da outra mãe, tudo acabou em risos e conversas leves com muitos planos à mistura .
Pensamos que cumprimos a nossa tarefa , que a carreira de Mãe acabou aqui , vinte e sete anos após o inicio. Mas não o creio. Há sempre tanta coisa para partilhar com os filhos, tanta coisa para fazer agora que temos mais tempo livre e ficamos de novo a sós com o carametade. E tanta coisa que não fizémos ...
Uma nova etapa que começa ! Novos horizontes se adivinham ...
- Mãe, esqueci-me de dizer que o Tomás ia jantar. Tens alguma coisa a jeito ?
- Há sempre qualquer coisa para mais um , remedeia- se sempre . A minha Avó que passou pelas duas grandes guerras e pelas revoluções do tempo da monarquia/república e respectivos racionamentos , fazia sempre comida a mais para alguém que aparecesse de surpresa. Ficou viúva com 35 anos e quatro filhos e sobreviveu a esses tempos duros.
Sentamo-nos à mesa para jantar , os quatro.
- Temos uma coisa para contar - começa ela, mal tínhamos pegado nos talheres. Vamos alugar casa na Ajuda, tem vista para o rio, fomos ver há pouco , gostámos muito e já era tempo de o fazermos.
Claro, já era previsível há tempos que isso iria acontecer, mas é sempre uma surpresa, nunca se está à espera de ver a nossa filha ir embora assim , de um dia para o outro, de um momento para o outro. Mas com ela as transições foram sempre assim, fáceis, ultrapassáveis, sem pruridos, sem conflitos.
Foi assim quando entrou para o infantário, para a primária, para o ciclo, para o décimo ano, quando foi para a faculdade e esteve fora três anos, quando disse que ia fazer o mestrado noutra faculdade , quando defendeu a tese, quando começou a trabalhar.
Por outro lado , a Mãe sempre teve a noção de que os filhos são deles próprios desde o dia em que cortam o cordão, e não nossos. Sempre foi uma Mãe muito independente, muito avançada para o seu tempo e assim criou a filha. O Pai partilha das mesmas ideias .
Combinámos ir ver a casa, conhecer a zona, assinar os contratos, os dois filhos e os pais de ambos . Foi bom para todos que assim fosse quebrando alguma amargura que pudesse existir ou algum gelo... Inspecionada a casa, o local e o senhorio, afinal colega de um curso de dança da outra mãe, tudo acabou em risos e conversas leves com muitos planos à mistura .
Pensamos que cumprimos a nossa tarefa , que a carreira de Mãe acabou aqui , vinte e sete anos após o inicio. Mas não o creio. Há sempre tanta coisa para partilhar com os filhos, tanta coisa para fazer agora que temos mais tempo livre e ficamos de novo a sós com o carametade. E tanta coisa que não fizémos ...
Uma nova etapa que começa ! Novos horizontes se adivinham ...
Wednesday, January 14, 2015
barcos no Tejo
Naquela tarde de domingo soalheiro, ficou ali sentada a olhar o Tejo e os barcos que por lá passavam . Não lhe apetecia nem andar nem sequer mexer-se, tão calma era a tarde naqueles instantes. O Sol forte reflectia-se nas águas calmas. Olhou os barcos, suplicando :
- Levem-me daqui !
Sunday, January 11, 2015
UM POVO... Guerra Junqueiro
UM RETRATO MAGISTRAL FEITO HÁ 118 ANOS, MAS COM ACTUALIDADE ATERRADORA
"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula,não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio da Política,torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."
Guerra Junqueiro, 1896.
Wednesday, January 7, 2015
Friday, January 2, 2015
ESPERANÇA
Lá bem no alto do décimo segundo andar do ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas buzinas
Todos os tambores
Todos os reco-recos tocarem:
– Ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada – outra vez criança
E em torno dela indagará o povo:
– Como é o teu nome, meninazinha dos olhos verdes?
E ela lhes dirá
( É preciso dizer-lhes tudo de novo )
Ela lhes dirá bem alto, para que não se esqueçam:
– O meu nome é ES – PE – RAN – ÇA
Mário Quintana
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