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Esta manhã , contemplei ao longe a queimada. Do outro lado do rio, extensões imensas se consumiam num ápice. Não era a terra que se convertia em chama : era o próprio ar que ardia todo o céu era devorado por demónios.
Mais tarde, quando as labaredas serenaram, restou um mar de cinza escura.
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Na ausência de vento, particulas flutuavam como negras libélulas sobre o carbonizado capinzal. Podia ser um cenário de fim de mundo. Para mim, era o oposto: era um parto da Terra. Apeteceu-me gritar pelo teu nome...
Escutar-se-ia longe, este meu grito. Afinal, neste lugar, até o silêncio faz eco. Se existe um sítio onde eu possa renascer é aqui onde o mais leve instante me sacia. Eu sou como a savana: ardo para viver. E morro afogada pela minha própria sede.
Mia Couto - Jerusalém
5 comments:
Foto adequadas às palavras belas de Mia Couto.
Saudades de África...
podes crer, justine
greentea
mas que grande susto...
bjocas
queimadas africanas nada têm a ver com as de Belas há dias , as do Sabugal, Sortelha, Sobral da Serra, Avelãs de Ambom , Pera de Moço e ontem de manhã uma fábbrica em Mem Martins...tudo a preto...queimado...
Entrei, espreitei e gostei deste canto, mas sobretudo gostei de ler as passagens de Mia Couto, que tanto admiro.
Agradeço a visita à minha casa, e deixo a porta aberta para quando quiser voltar, sozinha ou acompanhada destas vizinhas de cima (olá Violeta, tudo bem, Justine??)
;)
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